quarta-feira, 30 de março de 2011

GOSTO DE CEREJA (1997)

Como é sabido, o cinema iraniano é um dos mais engajados do mundo, tratando de protestos sociais e políticos que assolam o país. Não é a toa que Jafar Panahi, um dos cineastas mais ativos do Irã, vive uma represália por parte do autoritário governo de Mahmoud Ahmadinejad, que o proibe de deixar o país. Mas apesar  da severa censura que sofrem os artistas iranianos, seu cinema sobrevive com suas belas obras, expressando a rica cultura através de poemas cinematográficos.  E nesse cinema de grande expressão mundial, existe um representante que já ganhou prêmios nos principais festivais do planeta. Seu nome é Abbas Kiarostami, cineasta, roteirista e produtor de grandes obras. Dentre elas destacam-se, Close-Up (1990), "Onde Fica a Casa do meu Amigo?" (1987), "Através das Oliveiras" (1994) e "The Wind Will Carry Us" (1999). Mas sua notoriedade veio em 1997, com a Palma de Ouro em Cannes que dividiu com o japonês Shohei Imamura. O filme que o sagrou chama-se "Gosto de Cereja", considerado por muitos como seu grande trabalho, e consequentemente a película mais conhecida do país.
Contudo o esteriótipo que o cinema iraniano adquiriu, sobre ser enfadonho e pseudo-intelectual, limita a curiosidade de muitos cinéfilos. Para começar assistir cinema do Irã, eu aconselho aos "novatos" essa premiada película de Abbas Kiarostami.  "Gosto de Cereja" tem uma premissa simples, com um dos desfechos mais marcantes que assisti na vida, que certamente conquistara a indiferença diante do belo cinema produzido pelo país.



A príncipio o espectador pega carona com um impaciente motorista chamado Badii. O homem de meia idade procura incansavelmente pelas ruas de Teerã,  algum trabalhador que ele possa oferecer um serviço simples e rápido. A príncipio ele aborda três homens. O primeiro é um soldado curdo, que além de recusar o trabalho,  foge desenfreadamente após tomar conhecimento sobre a proposta. Na segunda tentativa, Badii aborda um solitário segurança afegão, que vigia um terreno arenoso aos arredores da capital iraniana. Já na terceira tentativa, o desesperado homem propõe a um jovem seminarista afegão, a mesma oferta de emprego que outros recusaram. O religioso também não aceita.



Quem acaba aceitando é um velho professor de biologia chamado Bagheri. Mesmo contra seus preceitos, o ancião concorda com a perturbadora proposta por dinheiro. O trabalho consiste simplesmente em enterrar Badii em um buraco que o próprio escolheu para morrer.O argumento sobre a beleza da vida, e sobre a capacidade humana de desvirtuar os acontecimentos, acometidos simplesmente por impulsos, permeia "Gosto de Cereja" com poesia. Bagheri defronta-se com o misterioso homem que lhe oferece emprego, tentando faze-lo mudar de idéia. Nunca sabemos o motivo que encoraja o protagonista a tirar a própria vida.



O desfecho da trama ilustra a desvalorização que o humano dá à vida ao seu redor. E com uma simplória participação do cineasta iraniano, Kiarostami lembra o espectador de que ele está apenas assistindo a um filme.  E não o deixa esquecer sobre a capacidade que a mente humana tem para iludir, desvalorizando a real beleza da vida.  "Gosto de Cereja" é um grande debute para quem quer conhecer melhor o rico cinema iraniano.

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