sábado, 2 de abril de 2011

CÓPIA FIEL (2010)




O que torna uma obra primorosa? É sua beleza? As mãos caprichosas do artesão que a confeccionou? Ou o tempo de sua existência? E o que a difere de uma cópia genuinamente idêntica? São essas questões que permeiam o escritor e filósofo de arte James Miller (William Shimell), que vai à Toscana, na Itália, para divulgar seu último livro chamado "Cópia Fiel". É lá que ele conhece Elle (Juliette Binoche) uma comerciante de obras de arte francesa, que gostaria de debater pessoalmente o livro com o autor.

Miller não exita em conhece-la, e a convite dele partem para um passeio a céu aberto pelos lugares mais fascinantes da antiga cidade italiana. A discussão sobre originalidade e sobre a difícil tarefa de ser simples, toma um viés pessoal, levantando discussões sobre o sentido da vida, a morte, e o matrimônio. Em um determinado momento os dois recém conhecidos param para tomar café em um aconchegante bar toscano. Nesse local Miller conta à Elle como se inspirou para escrever o livro. Então o celular do escritor toca, e ele vai atende-lo do lado de fora do bar. É quando a dona do estabelecimento indaga Elle sobre sua suposta relação matrimonial com Miller. Sem desmentir o mal entendido, Elle inventa factóides sobre a suposta relação que tem com o marido, em um diálogo divertido de Binoche falando em italiano fluente. Quando retorna a mesa, a risonha Elle explica o mal entendido ao charmoso escritor que afirma; "formamos um belo casal".



Métricamente calculado por Kiarostami, a frase de Miller divide a película bem no meio da metragem do filme. De meros estranhos, eles se tornam um casal em conflito depois de quinze anos de casado. A ânsia por atenção de Elle diante do indiferente marido derruba a imagem de mulher forte que a personificava anteriormente. Já Miller passa de um simpático e galante escritor para um homem arrogante, ríspido e irônico. Sua visão sobre a arte é tão negativa quanto a falta de romantismo que o acompanha.



"Cópia Fiel" belamente fotografado pelo italiano Luca Bigazzi, quebra o paradigma de que o tempo faz bem. São em sutilezas que Kiarostami sustenta sua teoria, como por exemplo a discussão do casal de protagonistas sobre vinho. Nenhum outro objeto é mais simbólico para ilustrar a noção qualitativa que o tempo pode oferecer. A teoria de Miller, que permeia seu livro, ganha vida com sua relação matrimonial. Basta comparar a relação entre o casal, nas duas partes distintas do filme, para notarmos que o novo é bom. Enquanto na primeira metade existia subjetivamente um interesse romântico reciproco, na segunda parte o relacionamento já está defasado. E esse fator se encaixa no mundo das obras de artes, e nas cópias bem elaboradas que iludem os apaixonados errantes. Segundo Kiarostami tanto no âmbito intelectual quanto no afetivo, o velho não é sinônimo de excelência, como fomos acostumados a acreditar.


 Como Elle, Juliette Binoche recebeu a Palma de Ouro como melhor atriz em 2010.

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