quarta-feira, 3 de março de 2010

UM HOMEM SÉRIO (2009)


Desde "O Homem Que Não Estava Lá", os irmãos Coen não ousavam tanto com um roteiro tão complexo, denso e profundo. Valores filosóficos (e porque não matafísicos) são postos em cheque nesse belo exemplar cinematográfico. Protagonizado magistralmente pelo desconhecido Michael Stuhlbarg, "Um Homem Sério" mescla comédia e drama em um roteiro, mais uma vez bem elaborado pelos irmãos prodígio.

Logo de início somos apresentados a uma cena fantástica em que um homem radiante durante uma fria noite retorna ao seu lar. Ao contar à esposa, sobre a ajuda que recebera, a mulher logo trata de desmentir o marido, alegando que a "boa alma" citada pelo marido já tinha morrido. Segundo ela, o espírito morrera três anos antes de Tifo. O suposto fantasma então bate na porta do confortável lar e adentra o local. A mulher temerosa, contudo certa da razão enfia uma faca no peito do espírito convidado pelo marido. Mesmo atingido, o velho e suposto morto decide sair do local que foi mal recebido. Se de fato era um espírito ou não, jamais saberemos. Detalhe que tal conto é falado em hebreu, e termina antes do começo dos créditos iniciais.

"Um Homem Sério" é mais um ótimo exemplar sobre fé questionada. Nesse caso, Larry Gopnik (Stuhlbarg) é um professor de física judeu, que passa por uma péssima fase em sua vida. Mesmo seguindo à risca os valores morais impostos pela sua religião, Gopnik é um tremendo de um azarado. A esposa decide se divorciar dele, enquanto seu irmão mais velho não sai de sua casa. O personagem vive moralmente em queda livre, até que decide se consultar com o rabino local. Após duas consultas mal sucedidas (e uma divertida história que involve prótese dentária), Gopnik perde sua fé gradativamente. Paralelo a isso, o professor ainda é pressionado por um aluno coreano que fora reprovado em sua matéria.

Os irmão Coen mais uma vez lideram um elenco talentoso (e desconhecido), com performances e personagens divertidos. É o caso de Sy Ableman (Fred Melamed), um judeu certinho e charlatão que se relaciona com a mulher de Larry. Ou o Tio Arthur (Richard Kind), gênio incompreendido que mora com seu iGopnik depois de ter perdido todo dinheiro em jogo de cartas.

O roteiro afiado dos Coen, trata da incansável busca humana por respostas, que ao contrário da matemática, não é uma ciência exata. Se existe Deus, ou não, jamais saberemos de fato. A mente humana em polvorosa trabalha questões que são mais simples que se imagina. "Receba com simplicidade tudo aquilo que acontecer com você", frase que abre "Um Homem Sério" deixa uma dica sobre a verdadeira mensagem do filme e da vida, segundo a visão de Ethan e Joel Coen.

Apesar da indicação ao Oscar de "Melhor Filme" e "Roteiro Original", "Um Homem Sério" jamais levaria a estatueta dourada para casa. Os membros da Academia preferem filmes mais faceis e menos profundos.

1 comentários:

Michel Baptista disse...

Sr Larios, como vai?

excelente crítica, cara... o texto tá muito bom!

Abraço

Michel

 

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