sábado, 5 de fevereiro de 2011

VERDADES E MENTIRAS (1973)

A mentira sempre esteve presente na vida do cineasta Orson Welles. Desde sua juventude o artista inventava factóides afim de se promover, além de lhe divertir. Sua grande peripécia é a famigerada transmissão radiofônica de marcianos invadindo a terra em 1938, fruto da mente criativa do escritor H.G.Wells em "Guerra dos Mundos", na qual Welles leu para seus amedrontados ouvintes. Sua impactante voz ecoou pela América causando terror entre os ingênuos terráqueos estadunidenses.

Destemido e talentoso, Welles adentrou ao mundo do cinema pela "porta da frente", e já de início iludiu seus espectadores com o maior filme da história, "Cidadão Kane". Em "Verdades e Mentiras", Welles esclarece que Kane foi baseado no excêntrico magnata da aviação Howard Hughes. Esse que por sua vez era tão genial quanto transtornado, facilmente seria alvo de bibliógrafos. Porventura fora Clifford Irving e sua capacidade falsária de conduzir histórias, que o levou a fama por ter supostamente entrevistado Howard Hughes. Evidentemente sua mentira foi descoberta pela mídia causando-lhe uma série de acusações, inclusive a do próprio magnata que sequer ouviu falar de Irving. Para se redimir, o escritor mudou-se para Ibiza na Espanha para registrar em um livro a vida do talentoso húngaro Elmyr de Hory. Ambos, considerados por Orson Welles, como os maiores farsantes do século XX. O primerio, como escrito acima, manipulou a assinatura do ermitão Hughes, que o autorizava a escrever sua bibliografia. Já o segundo era um fracassado pintor que descobriu o prazer em falsificar quadros de grandes nomes da arte como Pablo Picasso. Suas falsificações eram tão perfeitas, que até os próprios artistas plagiados se convenciam das obras.


Com a  apresentação dos personagens reais, o filme ganha um contorno cômico evidenciado. Welles então passa a destrinchar a conduta de cada um dos falsários. Sua pretensões, frustrações e inspirações são sutilmente levadas ao espectador, ganhando um tom crítico por parte de Welles. O diretor de "A Marca da Maldade" conclui que a arte, seja ela original ou não, de fato é uma grande ilusão.


Mesmo em sua última grande obra para o cinema, Welles brinca de manipular o espectador, quando nos términos finais de "Verdades e Mentiras", a jovem e bela húngara Oja Kodar (FOTO) é retratada. A beleza estonteante da atriz representa a ruptura entre a arte e a mentira, tornando o engano como algo positivo e latente. E quanto mais a mentira for convincente, maior será sua qualidade. Uma grande crônica de Welles, justamente ele que é considerado o mais talentoso e vanguardista artista cinematográfico de seu tempo.

Clifford Irving retratado por Elmyr de Hory na capa da "Time"

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