segunda-feira, 26 de abril de 2010

Nashville (1975)

No ápice do escândalo Watergate, que envolveu o alto escalão do poder dos EUA, surgia uma obra que criticava a conturbada sociedade americana do período. A "Era Nixon" mexera com a auto-estima do tão patriótico povo americano, ainda mais após o desfecho frustrante na Guerra do Vietnã.

"Nashville" trata da alienação da população e de suas escolhas erradas para o poder do país. A película de 1975 mescla temas políticos, sociais e até religiosos, usando como pano de fundo uma das mais americanas cidades dos EUA. Localizada no Tennessee, Nashville é um dos maiores pontos de referência para a música popular da terra do Tio Sam.

Robert Altman, já tinha chamado a atenção do público e principalmente da crítica, no final dos anos 60 e começo dos 70. Com "Nashville" o cineasta produziu o maior e melhor projeto de sua filmografia quase impecável (dirigiu bombas como "Popeye" e "Pret a Porter"). Nessa película, Altman desempenhou seu icônico poder sobre atores, mostrando que ele de fato foi um dos grandes cineastas nesse quésito. Ele era capaz de tranformar canastrões em grandes artistas. Lily Tomlin, na época foi indicada ao Oscar de melhor atriz por sua bela atuação nesse filme. Outro mérito de Altman, era a forma sutil em que o diretor mostrava as mazelas sociais dos personagens. Em nenhum momento o filme joga de forma contundente os problemas sofridos para o espectador.

A cena inicial de Nashville, por exemplo, se passa dentro de um estúdio local. Em uma sala é gravado um dissonante "folk", interpretado por Henry Gibson (morto recentemente). Já no ambiente ao lado, um excitante "gospel" é entonado por um agitado e dançante coral negro. Uma jornalista britânica da BBC (interpretada magistralmente por Geraldine Chaplin) tem o trabalho de registrar o movimento de Nashville para um documentário da aclamada emissora. É dela as primeiras frases brilhantes do filme, onde ela compara os músicos negros à antigas tribos africanas. De forma sucinta, Altman critica os falsos valores norte-americanos, advindos da "pátria mãe".

Além do racismo, o filme aborda o famoso "American Dream". Na ocasião da película, Nashville recebe Barbara Jean (Ronee Blakley), uma das mais prestigiadas cantoras de Country dos EUA. Seu carisma perante fãs que a clamam como uma deusa, é usado em pró de uma campanha presidencial. Contudo seu marido, que também é agente da artista, não vê com bons olhos a inclusão da imagem da cantora em uma campanha política.

Inspiradas na cantora, várias mulheres da cidade , e fora também, tentam em vão se apresentar afim de tornassem estrelas. É o caso da desafinada Suellen Gay (Gwen Welles) que na tentativa constrangedora de mostrar seu "talento", despe-se para dezenas de homens que só a queriam cantando para ve-lâ nua. Ou a de uma persistente loira, que no trágico desfecho de "Nashville" consegue enfim mostrar o poder de sua voz, e assim reascender a estima dos desmazelados e excluídos da sociedade norte-americana.

A música "I´m Easy" do até então galã, Keith Carradine levou a única estatueta do Oscar de 1976, que naquele ano fora dominado pelo também excelente "Um Estranho no Ninho". Composta e interpretada pelo próprio ator, a música tornou-se um símbolo desse filme que contem dezenas de músicas boas de Folk e Country. A cena em que ela é entoada, também é majestosa. O cantor Tom Frank (Carradine), convida Linnea (Lily Tomlin) a vê-lo tocar em um clube noturno local. Mesmo arrancando o suspiro de várias garotas mais jovens, o artista se apaixona pela simplória mulher de Nashville que se dedica ao Gospel e a seus dois filhos deficientes auditivos.

Aliás é válido ressaltar que os desempenhos musicais de "Nashville" saltam aos olhos. Muitas músicas são deliciosas como a já citada "I´m Easy" e "It Don't Worry Me", ambas compostas por Keith Carradine. As apresentações de Barbara Jean também são de ótima qualidade, contrabalançando às histéricas Connie White (Karen Black) e a citada Suellen Gay, que arrancam propositais desempenhos de mal gosto.

Com essa mistura de temas sociais e música, Altman usou de sua convencional sutileza para dirigir uma das críticas mais bem realizadas da sociedade estadunidense. "Nashville" é considerado em muitas listas ao redor do mundo, como um dos 100 melhores filmes da história. Através dos tempos, esse filme criou seguidores nos EUA, sendo o aclamado Paul Thomas Anderson (Magnólia e Sangue Negro), um dos seus fiéis seguidores. Confira.

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