quarta-feira, 1 de abril de 2015

VÍCIO INERENTE (2014)


Por CARLOS LARIOS


Baseado no Best-seller homônimo de Thomas Pynchon, Vício Inerente (Inherent Vice, 2014) é um dos filmes de Paul Thomas Anderson que mais dividiu as opiniões da crítica. Muitos especialistas execraram a obra, taxando-a como uma mera comédia policial, ocorrida na findável Era do Paz e Amor. Outros o exaltaram como o "melhor filme de Anderson depois de 'Sangue Negro'". Equívocos à parte, Vício Inerente é muito mais que uma simplória comédia lisérgica.

Grande parte do público se deixou levar pela caracterização desleixada de Joaquin Phoenix, que interpreta Doc, um detetive hippie que ostenta uma costeleta e um cabelo mal cortado, digno de um mendigo maltrapilho.  Evidente que pelas situações inusitadas e diálogos que beiram o absurdo é difícil conter os risos diante de tanta excentricidade. Mas isso não impede que o filme não seja tratado de forma leviana. Os personagens, por vezes exagerados, são fidedignos ao período de paranoia instalada na sociedade americana do começo da década de 70, onde os hippies eram tratados como jovens transgressores, diante da chacina promovida pela família Manson.



Na trama, Doc é designado por sua ex-namorada Shasta (a estonteante Katherine Waterston), a investigar um suposto complô contra seu benfeitor, o poderoso milionário do mercado imobiliário Michael Wolfmann (Eric Roberts). Envolto em uma intrínseca rede criminosa, o detetive é perseguido pelo excêntrico comissário Bigfoot (o ótimo Josh Brolin), que vive no seu encalço. O desenrolar da trama ganha contornos de mistério quando sua amada Shasta desaparece subitamente. 

Paralelo a investigação sobre o magnata e o paradeiro de seu antigo caso amoroso, Doc é acometido por um senso de responsabilidade ao lidar com o saxofonista Coy (Owen Wilson), que, infiltrado na perigosa rede criminal como um espião, não pode sequer manter contato com a família.

Paul Thomas Anderson e equipe seguem Joaquin Phoenix durante filmagens do filme

Vício Inerente desmazela o gênero noir com a presença caricata do seu protagonista lesado pelos vícios, mas nobre em suas convicções. O embate entre Doc e seu detrator, o impaciente Bigfoot, ilustra bem a antítese entre os personagens, movidos por caráteres totalmente distintos. O primeiro representa a lealdade em um rótulo depreciativo pela sociedade, em contrapartida ao garbo de um profissional corrompido, mas à sombra de uma corrupta instituição dotada de credibilidade como a Polícia de Los Angeles. Esse jogo de aparências e julgamentos morais é a grande essência proposta por Paul Thomas Anderson que, sem soar pedante, entrega uma obra divertida, passional e muito profunda.

Doc vs. Bigfoot

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