quarta-feira, 6 de julho de 2011

Breve história do horror japonês - PARTE 1

Antes dos espíritos cabeludos que atormentavam os profanadores de seu descanso, ou do sadismo nipônico peperpetuado em obras classificadas como doentias, o cinema de terror japonês já tinha títulos do gênero fantástico em sua rica história cinematográfica. Dirigido por Minoru Murata em 1924, "Moken no himitsu" inaugurou o terror nas terra do "Sol Nascente". Mas só foi dois anos depois que a primeira obra-prima do gênero foi lançada. O clássico "Kurutta ippêji" de Teinosuke Kinugasa misturava o drama com o terror psicológico, passado dentro de uma instituição de doentes mentais. Para os críticos de cinema, "Kurutta ippêji" foi o primeiro grande filme japonês, inspirando cineastas como Yasujiro Ozu e Akira Kurosawa.



 Kurutta ippêji de Teinosuke Kinugasa

Apesar de pequenas produções do gênero, o terror nipônico iria voltaria à tona 20 anos depois. Em 1949, baseado no conto teatral (kabuki) de Nanboku Tsuruya (1755-1829), o cineasta Keisuke Kinoshita adaptava para o cinema sua obra mais conhecida; "Ghost of Yotsuya" ou "Yotsuya kaidan". O filme de samurai ganhou uma continuação no mesmo ano, além de várias adaptações. A mais famosa foi a de 1959, dirigida por Nobuo Nakagawa.

Tôkaidô Yotsuya kaidan de Nobuo Nakagawa


Mas só foi na década seguinte que o gênero de terror se consolidou. Com a paranóia criada pela Guerra Fria e pelas trágicas bombas de Hiroshima e Nagasaki em 1946, o Japão explorou com mais afinco as mutações genéticas causadas pela radiação. Ishirô Honda então criou um dos grandes ícones da cultura populara japonesa; o Gojira, conhecido no ocidente como Godzilla. E assim criou os filmes de grandes efeitos especiais que foram chamados de "Tokusatsu".

Gojira de Ishirô Honda

O filme foi um sucesso instantâneo, não apenas no Japão, mas no mundo todo. E o incontrolável lagarto gigante voltou a assombrar as grandes metrópoles nipônicas logo no ano seguinte com "Gojira no gyakushû" de Motoyoshi Oda. A película ganhou um novo monstro gigante para duelar com o famoso lagarto; Anguirus.

 Gojira no gyakushû de Motoyoshi Oda

E a partir de então ganhou várias continuações, sendo produzidos filmes do Godzilla até os dias de hoje, seja no Japão ou nos EUA.

1962- Kingu Kongu tai Gojira de Ishirô Honda

 1972- Chikyû kogeki meirei: Gojira tai Gaigan de Jun Fukuda

1984- Godzilla 1985 de Koji Hashimoto

1992- Gojira vs. Mosura de Takao Okawara

2003- Gojira tai Mosura tai Mekagojira: Tôkyô S.O.S. de Masaaki Tezuka

Com o fenômeno do Godzilla, os grandes estúdios japones apostaram em novos monstros gigantes como Rodan e Varan. Mas sucesso mesmo era o cineasta Ishirô Honda que levava mais pessoas aos cinemas do que seu conterrâneo Akira Kurosawa. Além de ficar imortalizado como um dos criadores e responsáveis pelo sucesso da franquia do lagarto gigante, Honda criou outros filmes do gênero de terror que tiveram razoável sucesso fora do Japão.


1958- Bijo to Ekitainingen

1963- Matango

1965- Furankenshutain tai chitei kaijû Baragon

Apesar da criação de um dos maiores ícones japoneses de todos os tempos, a década de 50 não se limita apenas aos monstros de borracha. O gênero amadureceu e graças a religiosidade e a tradicional cultural milenar, o Japão criou obras de terror verdadeiramente perturbadoras durante esse período. Muitos cineastas se inspiravam em contos do famoso teatro japonês Kabuki, que mesclava histórias religiosas ou heróicas com canto e dança. Como o já citado "Yotsuya Kadan", "Bôrei kaibyô yashiki" (The Black Cat Mansion) também continha elementos do tradicional teatro nipônico. 

Bôrei kaibyô yashiki de Nobuo Nakagawa

"The Black Cat Mansion" foi dirigido por Nobuo Nakagawa, que se notabilizou como um dos grandes mestres do terror nipônico durante as décadas seguintes. Seu estilo clássico imortalizou algumas preciosidades nipônicas como, "Jigouku" (1960) e "Kaidan hebi-onna" (1968). Já os cultuados cineastas Masaki Kobayashi (Harakiri) e o hoje centenário Kaneto Shindô, filmaram duas grandes películas do gênero baseadas em antigos contos. Em "Kaidan" (1964) Kobayashi dirigiu uma fantasia fantasmagórica, baseada no romance do autor grego radicado no Japão, Lafcadio Hearn. Shindô perpetuou sua filmográfia no gênero de terror com duas inesquecíveis produções; baseada na folclórica criatura japonesa, "Onibaba" (1964) é um dos filmes do gênero mais lembrados da terra do sol nascente, pois mescla tradição com metáfora política do período. Já "Kuroneko" (1968) é um ensaio e crítica sobre o machismo nipônico, fantasiado de obra de terror, onde um homem retorna ao lar onde abandonou  sua mãe e sua mulher. O que ele não sabe é que ambas estão mortas e a presença delas se limita ao espírito sedento de vingança das duas.

 Onibaba de Kaneto Shindô

Kaidan de Masaki Kobayashi

EM BREVE PARTE 2

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