quarta-feira, 20 de junho de 2012

Estreia da semana - Sombras da Noite



Falar de Tim Burton é retroceder alguns anos e relembrar os filmes exibidos na TV aberta, durante as tardes de minha infância. Cresci assistindo "Edward Mãos de Tesoura", "Os Fantasmas se Divertem" e "Batman - O Retorno" que, confesso, é um dos meus filmes de heróis favoritos. O universo sombrio e onírico que, fica entre o singelo pessimismo de seus personagens empalidecidos e a atmosfera sombria da fantasia gótica, permeia a filmografia do cultuado diretor. E não por menos, me conquistou quando era criança e progrediu conforme fui envelhecendo.


O estilo de Tim Burton transcende o cinema, pois o mundo criado pelo cineasta e artista plástico é uma marca muito presente na cultura pop. Recentemente, o diretor ganhou uma mostra na Cinemateca da França, em Paris, que exibe o privado e sombrio universo do cineasta. Desde a direção de arte que se equilibra entre o colorido ofuscante ao tom mais fúnebre, até a trilha sonora fantasmagórica que ecoa pela metragem das películas. Seu inigualável estilo tornou-se um patrimônio do cinema estadunidense. Mas o pragmatismo de Burton trouxe algumas limitações ao seu evidenciado talento.


Nos últimos filmes, o diretor virou refém da própria criação, tornando-se alvo de bombardeios por parte da crítica. Não por acaso que as películas mais elogiadas do cineasta, se distanciam do mundo estilizado que o artista concebeu. A divertida e comovente cinebiografia "Ed Wood", e seu projeto mais pessoal "Peixe Grande" que, mesmo flertando com a fantasia, entregou ao público uma direção madura e diferenciada da conhecida filmografia, em ambas as películas.


Já "Sombras da Noite" é o pastiche de todos nuances que permeiam a obra de Tim Burton. Uma legítima caricatura do imaginário do diretor que, atravessou décadas, mas ficou fadada a imutabilidade. Os fiéis colaboradores de Burton nesse novo filme não se resumem apenas na parceria entre Johnny Depp e a esposa Helena Bonham Carter. O compositor Danny Elfman, o montador Chris Lebenzon e a figurinista Colleen Atwood são profissionais que possuem um longo histórico profissional atrelado à filmografia do cineasta, e que figuram nos créditos de "Sombras da Noite".


A película é uma refilmagem da série homônima que foi exibida entre o final da década de 60 e começo dos anos 70. Barnabas Collins (Johnny Depp) é o atormentado vampiro que, depois de quase dois séculos, tenta retomar a "vida" ao lado de seus descendentes. Amaldiçoado por sua amante Angelique Bouchard (Eva Green), que não satisfeita em matar a família e o amor da vida de Barnabas, o transforma em uma criatura imortal sedenta por sangue, e o aprisiona dentro de um caixão. Graças a construção de um McDonald´s, o aristocrata é libertado de sua agonizante privação, e descobre um mundo totalmente diferente daquele que abandonara há 200 anos antes. Ele se encontra em 1972, no apogeu da era "Sexo, Drogas e Rock N´Roll", aprendendo os novos valores impostos pela sociedade.


Ao retornar a mansão Collinwood, que fora construída por seu pai há muitas gerações, Barnabas se defronta com Elizabeth Collins (Michelle Pfeiffer), matriarca da família que impõem regras para o vampiro voltar a morar em sua casa. Com certa dificuldade Barnabas reconhece a autoridade de sua parente distante e respeita o trato que sacramentou com ela. Mais tarde o aristocrata morto-vivo conhece o restante da falida prole; a misteriosa psiquiatra Dra. Julia Hoffman (Helena Bonham Carter), o viúvo Roger Collins (Jonny Lee Miller) e seu filho David (Gulliver McGrath), Carolyn (Chloë Grace Moretz) a rebelde filha adolescente de Elizabeth, além de Willie Loomis (Jackie Earle Haley), empregado da família, e a jovem babá Josette duPres (Bella Heathcote) que se parece muito com a finada amante do vampiro.


Na mão de outro cineasta, certamente o filme seria uma comédia pastelão que, investiria no choque de realidade entre o vampiro e o mundo recém-descoberto. Contudo em "Sombras da Noite", Burton não explora apenas o apelo temporal, mas concentra-se  também em sua narrativa gótica, tornando o filme em um gritante deja-vu aos fãs do cineasta. Poucas piadas funcionam no filme (a participação de Alice Cooper é gratuita mais deveria ser melhor explorada) e, se não bastasse o roteiro pouco criativo, Barnabas Collins possui sutis trejeitos de Jack Sparrow. O humor do filme é contido e limitado para não comprometer a atmosfera densa que Burton desejou fomentar. Saudades dos tempos de "Os Fantasmas se Divertem".


Resultado: "Sombras da Noite" é uma comédia pouco engraçada, com uma temática batida e pouco original, pontuada pelos nuances habituais de um cineasta autoral inseguro em desbravar o próprio talento. Agora é esperar pela próxima animação de Tim Burton chamada "Frankenweenie 3D" ,que estreia no fim do ano.


Nota: 5,0

1 comentários:

Tiago Mello disse...

Você pediu lá no Omelete e eu vim conferir.
Sua crítica foi uma grata surpresa. Não esqueça de mandar mais.
Abraço!

 

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