quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DRIVE (2011)


O cinema do jovem diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn me incomoda um pouco. Câmeras em slow-motion, música alta para ilustrar a cena e atuações propositalmente caricatas são quase de praxe em sua filmografia. Nota-se em "Bronson", por exemplo, o trabalho estupendo de Tom Hardy no papel do protagonista, contra a direção pesada do jovem cineasta escandinavo preocupado em estilizar seu filme. A marca evidente do cineasta dinamarquês em deixar a película com sua "cara" soa as vezes um tanto quanto pretensioso e forçado.


Em "Drive", Refn perpetua seu estilo de direção com  mais maturidade, se comparado com suas obras anteriores. O cineasta mescla a sutileza européia, com as extravagâncias do "cinemão" estadunidense. O pastiche evidenciado em "Drive" convence, e não compromete como outrora, a direção de Nicolas Winding Refn. Seu protagonista interpretado magistralmente pelo excelente Ryan Gosling é um sujeito que economiza palavras.  Ele não parece ter um proposito vital, já que se arrisca diariamente como dublê de batidas de carros para filmes de ação. Nas horas vagas, trabalha como motorista de ladrões em fuga, esquivando-se dos policias com seu rádio escuta de alta freqüência. Em nenhuma parte da trama é revelado seu nome, e muito menos seu passado.



Shannon (Bryan Cranston) é o dono de uma oficina mecânica, onde emprega o misterioso rapaz. Seu grande sonho é criar uma equipe e transformar seu pupilo em um grande piloto de stock car. Para isso ele pede ajuda de Bernie Rose (Albert Brooks), um ex-produtor de filmes baratos nos anos 80, que investe em negócios marginais. Seu sócio é Nino (Ron Pearlman), um sujeito de má índole envolvido com a máfia local.




O protagonista, até então, quase como um andróide sem sentimentos encontra em sua vizinha Irene (Carey Mulligan) e seu pequeno filho Benício, um sentido para sua vida irresponsável. Ele visivelmente se apaixona por ela, até que seu marido sai da prisão. Pai de Benício e marido de Irene, Standard Gabriel (Oscar Isaac) é um ex-assaltante que deve dinheiro para seu antigo mandante e, portanto, tem que pagar uma elevada quantia em troca da segurança de sua família. Ao saber disso o motorista (como todos o conhecem) decide ajudá-lo em um último assalto, já que Standard prometeu que nunca mais iria se envolver em crimes.


 
  Ao lado da estonteante Blanche (Christina Hendricks de "Mad Men"), e com ajuda do protagonista anti-herói, Standard assalta uma casa de penhores, furtando um milhão de dólares em dinheiro. Mas as coisas dão erradas e o motorista se envolve em uma intrincada e violenta rede criminosa. Se o roteiro não parece ser tão original, a direção do cineasta dinamarquês é o grande diferencial de "Drive". Ele conduz o principal personagem em um drama intimista, misturado a sanguinolência e ao gore do bom e velho padrão estadunidense de fazer filmes. Intercalando harmoniosamente, duas formas distintas de cinema. As cenas em slow-motion são mais bem empregadas, tal como a alta trilha sonora.



 Outro ponto interessante é o sadismo fetichista do cineasta em inserir seios turbinados em meio às agonizantes e violentas cenas. (SPOILER) A voluptuosa Christina Hendricks, quase calada em cena, atua em um papel secundário quase que descartável se não fosse pelo fetichismo do cineasta em vê-la sendo esbofeteada e tendo sua cabeça explodida por uma bazuca. Uma mostra válida de Refn, que se inspirou na sensualidade dos antigos filmes de ação onde mulheres nuas eram as principais vítimas.



Vencedor no último Festival de Cannes, Nicolas Winding Refn conduz um brilhante trabalho. A fotografia do filme possui ótimos enquadramentos e reflete a marca das antigas produções policias da década de 80. A gostosa trilha sonora evidencia em suas letras, os anseios e temores do protagonista, caracterizando-se como uma parte importante da história e não um mero enfeite para se vender “CDs” do filme. Tirando Ryan Gosling, o restante do elenco está bem no filme, destacando-se a excelente britânica Carey Mulligan e a grande promessa latina Oscar Isaac. Os demais atores da trama conferem seus papéis de forma convincente. Inclusive a dupla Gosling e Refn estarão juntas em 2012 no suspense "Only God Forgives".


"Drive" é um grande filme, apesar do hype superestimado que a crítica e público lhe conferem. Uma boa película que diverte, prende atenção e faz pensar.

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