terça-feira, 21 de junho de 2011

Breve história do horror italiano



Federico Fellini, Vittorio De Sica, Michelangelo Antonioni, Sergio Leone, Luchino Visconti, Gillo Pontecorvo, Roberto Rossellini, Ermanno Olmi, Bernardo Bertolucci, Liliana Cavani, Dino Risi, Nanni Moretti, Ettore Scola, Pier Paolo Pasolini, Mario Monicelli, Francesco Rosi e Giuseppe Tornatore são alguns dos mais aclamados e prestigiados cineastas italianos do cinema mundial. Mas a sétima arte na Itália não se limita apenas aos dramas existenciais de Antonioni, às produções circenses de Fellini, à crítica pós-guerra de Sica, ou ao saboroso "spaghetti western" de Sergio Leone. O cinema italiano também é reconhecido mundialmente pelo seu cinema fantástico, que há quarenta anos atrás levava milhares de brasileiros ao cinema. Difícil acreditar que o cinema italiano divia suas atenções com os filmes dos EUA. Nas décadas de 60 e 70, surgiram dois cineasta italianos que deveriam estar juntos a seleta lista de cineasta acima; Mario Bava e Dario Argento. Suas películas, não só inovaram o gênero de horror, como trouxe novos aspectos para a sétima arte em geral. Contudo o cinema italiano de terror não se resume apenas por Bava e Argento. Na verdade o gênero de terror na Itália, começa nos primórdios do cinema, para ser específico na década de 20. "O Homem Mecânico" de André Deed foi o primeiro filme do gênero no país da bota. Além de terror, "O Homem Mecânico" é um longa de ficção científica sobre um robô descontrolado que é usado para cometer diversos tipos de crimes. Deed, que também atuou no filme, era um famoso comediante francês do começo do século XX.

L´uomo meccanico de André Deed

Antes mesmo da Universal Studios adaptar o clássico de Mary Shelley, o cineasta Eugenio Testa levou o romance ao cinema em 1921, com"Il monstro di Frankestein". O cinema fantástico italiano da década de 20 chegou a adaptar a "Divina Comédia" de Dante Alighieri em "Maciste no Inferno" de Guido Brignone.

Maciste no Inferno de Guido Brignone

Com o fascismo que vigorou na Itália, e com a Segunda Guerra Mundial e a traumatizante reconstrução do país, o gênero de horror só se limitava à realidade. Demorou exatos 31 anos para se produzir uma nova película do gênero no país. O egípcio radicado na Itália, Riccardo Freda foi o cineasta que liderou a retomada dos filmes de horror no país com "I Vampiri". O cineasta, por sinal, seria reconhecido mais tarde por outras obras assustadoras como "Lo Spettro" (1963) com Barbara Steele e "Caltiki - il mostro immortale" (1959). Devido a um desentendimento com os produtores do filme, Freda desistiu do filme durante a metade das filmagens. Coube ao diretor de fotografia Mario Bava finalizar o longa. Ele o fez, despertando a atenção do produtor Lionello Santi que o "presenteou" com "A Maldição do Demônio".

Caltiki - il mostro immortale de Riccardo Freda e Mario Bava

Considerado o maior clássico de Bava, "A Maldição do Demônio" tinha a atriz britânica Barbara Steele como protagonista.  Três anos depois Bava dirigiu o primeiro Giallo da história; "Olhos Diabólicos" com Letícia Roman e John Saxon. Para quem não sabe, "Giallo" é amarelo em italiano. O subgênero de terror adaptado para o cinema por Mario Bava, remonta dos livros de mistério que tinham a capa amarela. 

A Maldição do Demônio de Mario Bava

Olhos Diabólicos de Mario Bava

Na mesma década Bava idealizou outras obras magistrais do cinema de terror italiano como; "As Três Máscaras do Terror" (1963) com Boris Karloff, "Dracula- O Vampiro" (1963) com Christopher Lee, o clássico giallo "Sei donne per l'assassino" (1964), a ficção "O Planeta dos Vampiros" (1965) com a brasileira e musa do "Cinema Novo" Norma Bengell, o assustador (e meu filme favorito do cineasta) conto fantasmagórico "Operazione Paura" (1966), além de "Il rosso segno della follia" (1970). Suas películas ganharam notoriedade pela beleza de sua fotografia como as belas cores e as espirais movimentações de câmera no citado "Operazione Paura".

Operazione Paura de Mario Bava

A década de 60 também contou com outras obras italianas inesquecíveis, surgindo assim grandes cineastas como Alberto de Martino, Sergio Corbucci, Antonio Margheriti, Damiano Damiani e Massimo Dallamano. Alguns desses cinasta seguiram por outro caminho e ficaram conhecidos por filmes de outros gêneros. É o caso de Sergio Corbucci que dirigiu os clássicos "spaghetti westerns", "Django" e "O Vingador Silencioso"

Danza macabra de Sergio Corbucci e Antonio Margheriti

 A inglesa Barbara Steele era considerada a grande musa do cinema de terror italiano na década de 60. A atriz figurou em nove filmes de horror na Itália durante esse período.

Barbara Steele em "A Morte do Demônio"

Na década seguinte, o horror italiano se espalhou no mundo todo e virou um grande sucesso de público e crítica. Surgiu então um dos nomes mais cultuados do terror; Lucio Fulci, conhecido também como "o padrinho do Gore". Apesar de ter dirigido todos os gêneros, Fulci ficou conhecido por seus filmes de giallo, além de dar uma atmosfera mística aos zumbis. Em 1970 o cineasta dirigiu "Uma Lagartixa num Corpo de Mulher" seu primeiro e inesquecível giallo. Dois anos depois o cineasta dirigiu "O Estranho Segredo do Bosque dos Sonhos". Em 1977 foi a vez do terror paranormal de "Premonição". Mas o cineasta se imortalizou com o clássico "Zombie" de 1979, que foi um grande sucesso fora da Itália. A maquiagem das criaturas putrefatas, atingiu um alto grau de realismo, dando inveja a grandes nomes da América como George Romero.

Zombie de Lucio Fulci

Além de Fulci, a década de 70 foi marcada por Dario Argento, um jovem e talentoso roteirista de "spaghetti westerns" como "Era uma Vez no Oeste" e "Exército de 5 Homens". Além de escrever Argento queria dirigir seus filmes. E foi o que fez em "As Plumas de Cristal" (1970), seu primeiro filme como diretor. Celebrado por sua rica filmografia, Argento ficou conhecido por suas películas estilizadas, com cores vibrantes, trilhas sonoras densas  e cenas pungentes.   O cineasta ajudou a notabilizar o "giallo", que era bastante popular na Itália, desde a década de 60. "Prelúdio para Matar" (1975), "Suspiria" (1977), "A Mansão do Inferno" (1980), "Tenebre" (1982), "Phenomena" (1985) e "Terror na Ópera" (1987) são seus filmes mais conhecidos. Dentre seus grandes colaboradores destacam-se; o produtor e irmão Claudio Argento, o compositor brasileiro Claudio Simonetti, o montador Franco Fraticelli, o técnico de efeitors especiais Germano Natali, as atrizes Daria Nicolodi e Asia Argento, respectivamente ex-mulher e filha do aclamado diretor.

 Prelúdio para Matar

Suspiria

A Mansão do Inferno

A década de 70 foi a mais rica e cheia de preciosidades do cinema italiano. Além dos filmes de Bava, Fulci e Argento, os giallos mais populares do período foram; "A Cauda do Escorpião" (1970) de Sergio Martino, "Cosa avete fatto a Solange?" de Massimo Dallamano (1972), "Sette orchidee macchiate di rosso" (1972) de Umberto Lenzi, "Chi l'ha vista morire?" (1972) de Aldo Lado, "I corpi presentano tracce di violenza carnale" (1973) de Sergio Martino, "Matador Implacável" (1975) de Luigi Cozzi e "La casa dalle finestre che ridono" (1976) de Pupi Avati. 

 Sette orchidee macchiate di rosso de Umberto Lenzi

I corpi presentano tracce di violenza carnale de Sergio Martino

La casa dalle finestre che ridono de Pupi Avati

Além dos filmes de mistério baseados nos livros de capa amarela, o terror setentista da Itália ganhou outras duas vertentes; os de filmes de ficção pós-apocalípticos e os de canibalismo. Vamos começar pela primeira vertente citada. "Holocaust 2000" de Alberto de Martino reuniu ícones do cinema mundial como Kirk Douglas, Adolfo Celi e Romolo Valli, além de ser o primeiro filme de ficção significativo que explodiu na Itália no fim da década de 70. A premissa dos demais filmes eram quase sempre semelhantes; guerras nucleares que resultaram em uma horda de mutantes. Ou então uma misteriosa doença dissiminada que transforma os vivos em zumbis. "Incubo sulla città contaminata" (1980) de Umberto Lenzi e "Apocalypse domani" (1980) de Antonio Margheriti, são as películas mais famosas do subgênero pós-apocalíptico realizado pelos italianos.

Incubo sulla città contaminata de Umberto Lenzi

Apocalypse domani de Antonio Margheriti

No fim da década de 70 e começo da década 80, o cinema italiano de terror voltou a chamar atenção do mundo. Se as cenas realizadas em seus giallos já eram chocantes, veio "os filmes de canibais" para dizer que as coisas poderiam ficar piores. Ruggero Deodato foi o primeiro desbravador do sanguinário sub-gênero. Em 1977 dirigiu "Fases da Morte 8- O Último Mundo dos Canibais", para três anos depois realizar o filme de canibais definitivo; "Canibal Holocausto". O filme foi banido em diversos países do mundo devido as fortes cenas de antropofagia, mutilações e mortes reais de animais selvagens. Apesar da contundente, o filme é aclamado como um grande "cult", e impressiona até os dias de hoje.

Canibal Holocausto de Ruggero Deodato

Apesar da grande repercussão negativa, os produtores decidiram investir no canibalismo. "Vivos Serão Devorados" de Umberto Lenzi e "Cannibal Ferox" de Umberto Lenzi deram sequência ao sub-gênero antopofágico. No mesmo período surgiram tão doentios quanto os de canibalismo nas floresta. Eis que surge o Joe D´Amato, realizador de dois clássicos extremos; "Buio Omega" (1979) e "Antropophagus" (1980).

Cannibal Ferox de Umberto Lenzi

Buio Omega de Joe D´Amato

Durante a enfervescência dos filmes de horror de canibais e de violência extrema, Dario Argento e Lucio Fulci ainda trabalhavam em seus projetos pessoais. Em 1981 Fulci realizou "The Beyond", considerado por muitos como o melhor filme de sua filmografia, apesar de eu descordar veementemente. Mas além dos talentosos cineasta da década de 70, surgiu uma nova geração de cineastas italianos durante a década de 80. É o caso de Lamberto Bava e Michele Soavi. Em meio ao erotismo e ao gore exacerbados que atingiam as películas de terror, Bava e Soavi levaram à itália o cinema popular de terror. Mesclando elementos tradicionais das películas de terror italiano com efeitos hollywoodianos, os dois cineastas destacaram-se na década com alguns clássicos. Bava esteve a frente da série "Demons". Já Soavi ficou conhecido pelo excelente giallo "O Pássaro Sangrento" (1987) e o sombrio "A Catedral" (1989).


Demons de Lamberto Bava

Deliria de Michele Soavi


Apesar de constantes produções do gênero, o cinema de terror italiano na década de 80 foi perdendo o fôlego. Os realizadores optavam mais por produções baratas e no mínimo bizarras como:


A Ilha dos Homens-Peixe de Sergio Martino

Le notti del terrore de Andrea Bianchi

O Rato Humano de Giuliano Carnimeo

Killer Crocodile de Fabrizio De Angelis

Paganini Horror de Luigi Cozzi

Nas duas décadas seguintes o terror italiano perdeu sua força, que outrora sustentava o cinema comercial do país. "Dellamorte Dellamore" de Michele Soavi, "M.D.C.- Maschera di Cera" de Sergio Stivaletti e algumas películas de Dario Argento salvaram os últimos 21 anos de terror italiano.

Dellamorte Dellamore de Michele Soavi

Espero que tenham gostado. Por favor deixe sua opinião nos comentários.

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7 comentários:

Anônimo disse...

Bela iniciativa mano, é sempre bom ler históricos e comentários sobre estes grandes clássicos, inclusive quando aparece algum que a gente ainda não viu, fica a dica!

Anônimo disse...

achei muito legal, nao conhecia o cinema italiano genero terror.

Jheni disse...

Muitoo interessante mesmo!!!

Michael Carvalho Silva disse...

Sempre fui louco pelo cinema de terror italiano, em especial pelo maior clásico do gênero que é "Demons - Os Filhos Das Trevas" que reúne de uma só vez todos os grandes ícones do gênero como Lamberto Bava, Dario Argento, Michele Soavi, Urbano Barberini, Nicoletta Elmi, Fiore Argento e Claudio Simonetti entre outros. O cinema de terror italiano é de longe o melhor do mundo sendo muito superior até mesmo as produções americanas e alemãs do gênero sendo praticamente insuperável.

Unknown disse...

Eu acho que é um filme de terror que eu não podia ver d Euna tempo , mas agora eu não sei o que me aconteceu porque Penny Dreadful série da HBO que eu era mais do que cortada e com a estréia de sua segunda temporada , eu

Unknown disse...

Muito esclarecedor o texto, parabéns.
Sou fã do cinema italiano especialmente o de terror.
"O estranho segredo do bosque dos sonhos" é um dos meus favoritos embora acredito que se enquadre no "giallo". Mas praticamente todos, desde Bava a Joe d'amato, me agradaram.
Esse "Rato humano" é bizarro eu nem lembrava que assisti quando mais novo portanto foi meu primeiro filme de terror italiano.

jeorgef38@gmail.com disse...

Parabéns pela bela explicação desses filmes citados eu vi em fitas cassetes O rato humano que eu achei beeem tosco, holocausto canibal que e aterrorizante pelas cenas de mortes reais e O passaro sangrento (Deliria)esse último no cinema em 1988 eu acho.
Parabéns.

 

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