sábado, 4 de fevereiro de 2012

UM MÉTODO PERIGOSO (2011)

   David Cronenberg é um dos cineastas mais aclamados da atualidade. Desde seu primeiro filme, como diretor de películas de terror barato, o canadense sempre se importou em mesclar o poder negativo que a ciência pode exercer sobre o humano, dominado pelo obscuro psíquico irracional. Foi assim que suas principais obras caracterizaram-se, tal como "Videodrome", "Scanners", "Gêmeos - Mórbida Semelhança" e "A Mosca". Nos últimos anos, Cronenberg optou com discernimento em tomar um novo rumo. Em parceria com Viggo Mortensen, o cineasta deixou de lado a ciência, para debater em seus filmes, a obscuridade da mente humana em cultuadas películas como "Marcas da Violência" e "Senhores do Crime". As duas películas passaram a torna-lo referência entre críticos, e não apenas a entusiastas de ficção científica e filmes de horror. Com "Um Método Perigoso", Cronenberg se consolida como um perspicaz artesão perfeccionista, tornando sua obra quase que impecável. O tema do subconsciente, que sempre o acompanhou em seus filmes, não poderia ser mais significativo com um projeto sobre Freud e Jung.  Menos contundente que suas películas de outrora, Cronenberg concebe a história de uma relação antagônica, suprida pelo orgulho e egocentrismo de ambos os lados. 


  A ciência retratada em "Um Método Perigoso" é real, mas não menos destrutiva que a abordada em "Videodrome" ou "A Mosca".  Os dois psicanalistas mais famosos da história são vistos como reféns de seus métodos, e embora exista o respeito e o cavalheirismo entre eles, suas respectivas ideologias soam dissonantes um ao outro. Carl Jung (Michael Fassbender) estabelece conceitos puritanos, que soa como hipocrisia para Siegmund Freud (Viggo Mortensen), além de exaltar teses parapsicólogas que são vistas como misticismo barato pelo pai da psicanálise. Já Freud é para Jung uma figura patriarcal que exala conhecimento, mas se limita a defender cegamente o conceito do conflito psíquico sexual . Entre os dois está Sabina Spielrein (Keira Knightley),  antiga paciente de Jung, que o admira como estudioso e homem. Mas que concorda com os métodos e ideologias do famoso psicanalista austríaco. Incentivado por Otto Gross (Vincent Cassel), libidinoso psicólogo acometido pelo excentricismo, Jung passa a manter relações extra-conjugais com Spielrein.


   Com eloquência, "Um Método Perigo" designa os relacionamentos tempestuosos, incentivados pela racionalidade humana auto-destrutiva. A sexualidade também é abordada na película como um parâmetro para a liberdade do indivíduo, segundo os preceitos freudianos. Cronenberg analisa, mais uma vez, só que de forma sutil, a inteligência humana em sua concepção mais falha. Inclusive, existe um debate implícito em torno da relação entre arianos (Jung) e judeus (Freud e  Spielrein), sutilmente citado no término do filme por Jung, através da descrição de seu sangrento sonho premonitório, fazendo alusão as grandes guerras que estariam por vir.


   É verdade que em "Um Método Perigoso", o cineasta canadense conduz uma obra menor, se comparada com a grandiosidade de sua filmografia. Mesmo assim é possível afirmar que suas frustradas convicções sobre a humanidade, continua em pauta para escolha de projetos. Seus filmes são ricos materiais para apreciadores de psicologia, e claro, de bom cinema.

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