sexta-feira, 26 de agosto de 2011

UM CONTO CHINÊS (2011)

Podia ser apenas mais uma película com a desgastada fórmula de dois desconhecidos que se conhecem por acaso, e com o passar do tempo formatam uma empatia mútua. Mas "Um Conto Chinês" não está fadado somente à esse tipo de arquétipo. O mais recente sucesso do cinema portenho, que levou mais de um milhão de espectadores para o cinema, é uma comédia protagonizada pelo grande astro argentino Ricardo Darin, que demonstra a cada filme sua flexibidade e talento para compor vários personagens distintos. Em "Um Conto Chinês" ele se distancia da imagem de galã maduro para dar vida a Roberto, um sistemático cinquentão rabugento. Sem pretensões na vida, o personagem é dono de uma pequena loja de ferramentas. Seu dia-a-dia limita-se a banalidades que o irritam quase que em tempo integral. Mesmo sendo um sujeito anti-social e ermitão, Roberto alimenta alguns hobbies pouco convencionais, como o de presentiar o retrato de sua falecida progenitora com miniaturas de galinhas em porcelana. Além disso, Roberto coleciona notícias de mortes absurdas no jornal e assisite a pousos e decolagens de aeronaves que trafegam pelo aeroporto de Buenos Aires. É nesse local que ele conhece Jun, um jovem chinês que abruptamente é expulso de um táxi em movimento. O rapaz que não fala nenhuma palavra em espanhol, é brevemente socorrido pelo homem ranzinza. Roberto então é acometido por um grande senso de caridade, embora sua faceta sisuda continue intacta. Apesar de sua frustrada torcida para que o perdido rapaz chinês reencontre seu tio que reside na Argentina, Roberto cria um vínculo fraternal, quase que paterno por Jun. A relação deles ganha mais desenvoltura com a presença de Mari (Muriel Santa Ana), uma quarentona espirituosa e apaixonada pelo rabugento cinquentão.

 
    Dois terços do filme é pura comédia de situações, baseadas no choque cultural entre Roberto e seu indesejável hóspede. O restante do filme é complementado pela sutileza dramática, marca registrada do cinema argentino contemporâneo, que sensibiliza o espectador mais frígido. O passado da dupla é revelado no fim da película, na qual ambos dividem seus fardos de forma universal, mesmo que suas línguas sejam tão incompátiveis. Roberto é um ex-combatente que lutou durante à década de 80 nas Malvinas. Enquanto Jun é um artesão que perdeu sua amada após uma fatalidade envolvendo uma vaca caída do céu (absurdo, mas pasmem, baseado em uma história verídica).

    Apesar da "batida" moral que a película prega sobre as aparentes banalidades vitais, é quase unânime a sensação de "feel good" após o término da metragem. É um filme com uma desenvoltura manjada, mas com atuações convincentes e grande "timing" cômico. Memso longe de mudar a indústria cinematográfica, "Um Conto Chinês" é um filme inteligente e positivo que certamente o fará sorrir.

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