quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O SÉTIMO SELO (1957)

Ingmar Bergman, amante da vida, e como todo humano, temeroso a morte, várias vezes abordou-a em sua extensa filmografia. O cineasta sempre fez questão de lembrar seu espectador sobre a sua presença inerte durante a vida de cada indivíduo. Ele a usou como vingança em "A Fonte da Donzela", como desequilíbrio familiar em "Gritos e Sussuros" e inspiração nostálgica em "Morangos Silvestres". Porém em "O Sétimo Selo" o cineasta a materializou como uma exímia xadrezista. Tendo como oponente um robusto cavaleiro, inseguro quanto sua fé e descrente da existência divina.


Após convidar a morte (Bengt Ekerot) em pessoa para uma partida de xadrez, Antonius Block (Max von Sydow) tenta domina-la afim de adiar sua existência. Orgulhoso diante da seviciadora criatura encapuzada, o cavaleiro traça armadilhas para despista-la. O tabuleiro é uma Suécia doente tomada pela Peste Negra. As peças são os camponeses que servem como inspiração para o descrente Block. Entre eles um belo casal de atores andarilhos, que passam o tempo entretendo povoados sofridos e temerosos. A vitalidade em torno deles, contrasta com a filosofia niilista do cavaleiro, que outrora servia Deus através de sua cortante espada. Ao conhecer e ajudar o casal de artistas, Block sente-se protegido pelo efémero sentimento de esperança que o domina. Como uma breve salvação, os andarilhos tornam-se um ofuscante significado para sua vida banal.


    A solidão do inseguro protagonista só não é maior devido a presença de Jons (Gunnar Björnstrand), seu fiel escudeiro. Com aptidão à discursos bem articulados, o grandalhão e carismático companheiro, ajuda oprimidos camponeses na árdua tarefa de sobrevivência. Sua grandeza espiritual o protege do temor em relação a sombria e constante presença da morte. 

   Escondidos em máscaras viris e truculentas, Block e Jons planejam cruzar uma escura floresta durante a noite, afim de se chegarem salvos ao castelo do cavaleiro. Com eles o radiante casal de artistas Jof (Nils Poppe) e Mia (Bibi Andersson) e o pequeno filho, além do lenhador Blacksmith (Åke Fridell) e sua lasciva e adúltera esposa Karin (Inga Landgré). Apesar da ligeira esperança nutrida através de seus novos companheiros, a morte cruza novamente o caminho do incessante cavaleiro, e o enfraquece com a presença de uma jovem moça. Considerada o demônio em pessoa, a Bruxa, como é chamada pelos cavaleiros a serviço de Deus, é questionada pelo esbelto cavaleiro descrente, que tenta se convencer da possessão. Ao invés disso ele presencia o terror nos olhos lacrimosos da amaldiçoada garota em chamas. Sua fé então, abruptamente desvanece, torna-o vulnerável a sedenta figura negra que o atormenta. 
   "O Sétimo Selo" é um ensaio sobre a fé questionada e sobre a figura divina que alivia o temor da humanidade. A descrença na imagem de Deus se bifurca e traça caminhos opostos aos olhos de cada um. Uma obra-prima merecedora da admiração para qualquer entusiasta da sétima arte e/ou filosofia. A concepção primorosa do cineasta sueco não se resume apenas em sua mão firme ao tratar do tema. Mas também por encaixar elementos que criam uma atmosfera tensa para o espectador. Tal qual o conjunto das imagens bem fotografadas em preto e branco, até a contundente trilha sonora. Bergman criou um filme com duas vertentes distintas que pode se encaixar ao gosto de seu espectador. Portanto assista e faça sua escolha.

0 comentários:

 

Blogroll

free counters

Minha lista de blogs