sábado, 13 de agosto de 2011

A ÁRVORE DA VIDA (2011)

"Graças a Deus", esbraveja uma mulher impaciente ao término de "A Árvore da Vida". Outra pessoa ao meu lado, incrédula, não parava de consultar seu celular, ansiosa pelos créditos finais daquele filme sem significado aparente. No corredor de acesso à saída, um jovem casal de namorados mencionava que essa película talvez fosse o pior que eles assistiram na vida, e que o cineasta supostamente estaria drogado ao concluí-la. Moral; "A Árvore da Vida" é um filme para poucas pessoas, mas engana o público mais desatento pela presença "estrelada" de Brad Pitt e Sean Penn.

O que me irritou e também me constrangeu, foram as reações das pessoas na sala durante os densos 139 minutos de metragem. Eram manifestações como bocejos, batidas de pé e risadinhas maldosas em cenas viscerais e de explosão de beleza. Não é a toa que o filme também dividiu a opinião de críticos do mundo todo, em sua exibição no último final de Cannes.


   Depois de mais de dois anos de processo de pós-produção, enfurnado dentro de uma ilha de montagem, o cineasta texano Terrence Malick concluiu o seu filme mais denso e religioso. A densidade das imagens exibidas durante "A Árvore da Vida", belamente fotografadas pelo mexicano Emmanuel Lubezki, lembra ao espectador a insignificância do homem. A áurea mística composta pelas imagens se complementa com as músicas sacras do compositor francês Alexandre Desplat. Efeitos especiais dignos de um blockbuster permeiam a tela com explosões vulcânicas, formações geológicas, e até aparecimento de dinossauros. O surgimento da vida também é um marco, e mostra a formação de compostos orgânicos dentro da chamada "sopa primordial".

   No campo religioso, "A Árvore da Vida" caminha por uma bifurcação moral, que a própria protagonista em narração nos convida a entender; o caminho da "graça" e o caminho da "natureza". Os O´Brien é uma típica família estadunidense do fim da década de 50. O patriarca interpretado por Brad Pitt é um exigente homem que rege sua prole, impondo suas convicções morais e suprindo sua frustração vital. Apesar de amoroso e preocupado com os filhos, Sr.O´Brien é o contraponto de sua esposa. A matriarca (Jessica Chastain), sempre acolhedora e bondosa, deposita fé e esperança de forma pacífica aos seus três filhos. Enquanto a Sra. O´Brien e seus dois filhos escolheram o caminho da "graça", Jack e seu pai vuneravelmente são entregues ao impulso "natural" e por consequência à uma vida cheia de frustrações.

 
   A falta de linearidade da trama reveza cenas da infância de Jack, com seus anseios de um depressivo homem de meia-idade, interpretado por Sean Penn. Suas lembranças paulatinamente espremem a evolução dele como um indivíduo, desde a fase sexual, sua relação com o inseparável irmão mais velho, e até passando pela vontade de matar seu pai opressor. Clamando por uma intervenção divina, o jovem Jack ora pela morte do patriarca, que ironicamente vive anos. O silêncio de um  ser supremo, por sinal, está presente em dezenas de takes. Nas rochas, no canto dos pássaros e na figura da imponente árvore, que calada, testemunha a angústia dos humanos em busca de um significado para vida.

    Apesar de ser pretensioso, "A Árvore da Vida" é um filme que requer paciência, e como uma meditação, o espectador deve se entregar ao mundo místico retratado por Terrence Malick. Deve se entender as metáforas impostas pelo cineasta, tal como a água, e a suma importância para a origem da vida, desde a citada sopa primordial, até o líquido amniótico que envolve o feto no ventre materno. O nosso mundo, permeado de incertezas e infelicidades, na eterna busca por um significado vital, é a base certa para compreensão de "A Árvore da Vida".

1 comentários:

Lucas Chagas disse...

muito bom...
realmente é triste estar no cinema, e ao lado pessoas conversando e dando risadinhas, e simplesmente perdendo a pureza do filme...

mas infelizmente, hoje, vivemos em uma sociedade acomodada ao estilo holywoodiano, onde desejam que o contexto do filme esteja estampado claramente sobre a tela...

mas é justamente ai que esta a beleza de "A árvore da vida", a história é passada de forma suave ao espectador, e não jogada na cara a torto e direito...

Malick na minha opinião foi genial...um poema contado como ninguém jamais viu antes

 

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