Amor, solidão e ganância são temas que permeiam "Cinzas no Paraíso", último filme do cineasta Terrence Malick antes de sua reclusão cinematográfica que iria durar duas décadas. Como em toda sua pequena filmografia, o diretor demorou anos para finalizar a edição da película que foi filmada em 1976. Devido ao perfeccionismo de Malick e ao orçamento que quase faliu o produtor do filme, "Cinzas no Paraíso" estreiou dois anos depois do previsto.
Porém a longa espera valeu a pena. As deslumbrantes paisagens registradas pelo lendário diretor de fotografia espanhol Nestor Almendros, recebeu um merecido Oscar. O espectador presencia uma explosão de quadros belíssimos a cada segundo de metragem.
O domínio e apreciação do cineasta por filmes mudos, o inspiraram a rodar a película quase sem luz artificial- uma legítima catarse visual, musicada pelo maestro italiano Ennio Morricone, que recria em sua trilha, o poder do folk violado.
E se não bastasse as técnicas cinematográficas que transformam o filme em uma bela e rica experiência audiovisual, "Cinzas no Paraíso" é dotado de uma trama poética e sensível. A sutileza de seus protagonistas contrasta com a complexidade de cada personagem da película. No começo da década de 1910, um jovem casal apaixonado vindo de Chicago, peregrina para o sul dos EUA em busca de trabalho e comida. Se não bastasse o sofrimento compartilhado do casal, os dois tem uma jovem e sonhadora pré-adolescente como companheira. O trio então desembarca em meio aos hectares de campos de trigo. Bill (Richard Gere), Abby (Brooke Adams) e Linda (Linda Manz) passam a trabalhar de forma miserável para um solitário fazendeiro (Sam Shepard). Abastado por seu cultivo de trigo, o fazendeiro se apaixona pela beleza de Abby, e passa a corteja-la.
Bill então descobre que o afortunado dono de terras está enfermo e prestes a falecer. Então o jovem trabalhador, que finge ser irmão de sua amada Abby, a incentiva a se casar com o fazendeiro tuberculoso. E assim ela o faz, entregue pelo dilema da paixão do homem que lhe banca seus anseios, em contrapartida do amor proibido que nutre por Bill.
Com a reciprocidade amorosa, o fazendeiro esbanja saúde apesar de suas condições, frustrando os planos originais que Bill traçara. Desconfiado do amor que Abby sente pelo rico senhor de terras, Bill foge com um circo voador, que pousara sobre a imensidão campestre das terras de trigo. O retorno do verdadeiro amado, em um breve período depois, acarreta uma série de trágicos desfechos para os protagonistas do filme.
Terrence Malick, vencedor da última Palma de Ouro em Cannes por "A Árvore da Vida", traça em "Cinzas no Paraíso" a indecência que pessoas de boa índole podem cometer durante a vida. Uma determinada frase da narração de Linda, relembra a condição humana de se ter uma vida breve e limitada, que precisa ser aproveitada intensamente. O valor artístico e filosófico da obra dirigida e roteirizada pelo texano Terrence Malick, tem dois fatores de plenitude que cinéfilos buscam em uma película; estética deslumbrantes meclada à uma poética história de valores.
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