Fazia tempo que não via um filme cem porcento poético quanto essa obra prima de 1987. A última vez foi A Fraternidade é Vermelha de Krzysztof Kieslowski, que me fez pensar por horas depois dos créditos finais. Nesse filme, o cineasta alemão Wim Wenders relata o ponto de vista de dois anjos que testemunham a falta de desejo e amor dos humanos pela vida. Bruno Ganz e Otto Sander interpretam as duas figuras celestes, sendo que o primeiro transforma-se em humano pois apaixona-se pela vida que ele observa desde os primórdios do tempo. O grande estopim de sua mudança é o amor proibido que ele nutre por uma equilibrista carente e melancôlica e a presença do ator Peter Falk (interpretando ele mesmo), que como ele já fora um anjo em tempos passados. Além do grande ode à vida, Wim Wenders critica a sociedade alemã da década de 80, que ainda era dividida por suas ideologias e um grande muro que as separava. A parte técnica é impecável, pois maior parte do filme apresenta uma fotografia em preto e branco, simbolizando o mundo frio que os anjos enxergam. Para os fãs de Nick Cave, um ponto positivo a mais, pois o cantor faz uma participação mais do que especial nessa obra premiada em Cannes por sua impecável direção. Vale ressaltar que anos mais tarde, Wim Wenders dirigiu a menos grandiosa continuação de Asas do Desejo e liberou os direitos para seu remake mela cueca hollywoodiano chamado Cidade dos Anjos.
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