segunda-feira, 14 de março de 2011

O AMIGO AMERICANO (1977)

Alguns cineastas ficaram conhecidos por seus maneirismos, estilos e temas. Quem é cinéfilo reconhece uma obra Felliniana, ou um filme de Ingmar Bergman. E qual película de Woody Allen passaria batida diante de um legítimo apreciador de cinema?

Wim Wenders é um cineasta, como os demais citados acima, que não passa desapercebido. O diretor alemão caminha acima da linha tênue entre a arte e o entretenimento, Não é a toa que ele foi o primeiro diretor de arte a rodar uma película em 3D. O documentário "Pina", sobre a famosa coreógrafa alemã Pina Bausch, rendeu efusivos elogios dos críticos no último Festival de Berlim.

Em "O Amigo Americano", pode-se provar alguns dos maneirismos de Wenders. Por exemplo, seu interesse pela cultura norte-americana, demonstrada em alguns de seus filmes como em "Paris, Texas". Ou mesmo sua persistência em rodar "Road Movies", mesmo que nessa película a grande parte das viagens dos personagens seja feito de avião.


Na película, o famoso personagem americano Tom Ripley protagoniza o filme. Dennis Hooper depois de uma fase conturbada em sua vida pessoal, foi alçado para o "mainstream" novamente interpretando o famoso "bon-vivant" Ripley. A complexa personalidade do personagem nunca foi tão bem abordada no cinema como nesse filme. Wenders se aprofunda nos dilemas morais de Tom Ripley, que inseguro de si decide ajudar Jonathan Zimmermann (Bruno Ganz) , um moldurista alemão que está a beira da morte. Chantageado emocionalmente, o moldurista é contactado para matar dois mafiosos de famílias rivais.O homem que deseja vê-los morto é um rico francês chamado Raoul Minot.


Para convencer Zimmermann a matar, Minot usa de suas influências para falsificar um diagnóstico sobre o verdadeiro estado de saúde, desesperando o alemão. O excelente trabalho do ator  Bruno Ganz, faz com que seu personagem transpire a angústia de um honesto chefe de família, que não tem nada a perder. Piedoso Tom Ripley decide ajudar o moldurista alemão, tranformando a relação dos dois em uma grande amizade.


Além de ser um belo "thriller", "O Amigo Americano" passa alguma mensagens subjetivas durante a metragem da película. Por exemplo, quase todos atores do filmes são cineastas que Wim Wenders admira. Nicholas Ray (FOTO), famoso diretor americano de clássicos como "Bigger Than Life" e "Johnny Guitar", interpreta Derwatt, um velho pintor que ganha dinheiro graças a fama que desenvolveu emcima de sua falsa morte. Sua participação no filme foi uma grande homenagem de Wim Wenders a ele. Como o pintor que interpreta no filme, Ray era mais aclamado na Europa do que nos EUA, sua terra natal, praticamente esquecido por conterrâneos. Entre outros cineastas que participam como ator estão Samuel Fuller, Gérard Blain, Peter Lilienthal, Daniel Schmid, Jean Eustache, além de Dennis Hopper.


O desfecho da película culmina na catarse de Zimmerman, que tranforma a sucessão de acontecimentos, em um escapismo beirando ao infantil. Sua amizade com Ripley é posta à prova, levando-o as últimas consequências. Um grande suspense dramático, lindamente fotografado, que apesar de ser um filme secundário da filmografia de Wenders, merece sua atenção. Um filme que percorre a diversão e a arte em seu esplendor.

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