quinta-feira, 3 de março de 2011

Harakiri (1962)


Para quem não sabe, lá vai um pouco de cultura oriental para os leigos. "Harakiri" é o ritual que os samurais se submetiam quando tinham a honra fragilizada de alguma forma. Para se purificarem o intrépidos guerreiros do Japão Feudal cortavam o intestino com a própria espada, até o orgão ficar exposto. A ferida tinha que ter o formato de uma cruz, e assim um outro samurai lhe arrancava a cabeça. Conhecido também como "Seppuku", a cerimônia suicida em pró da honra do guerreiro era feito em locais específicos, como em casa cerimoniais.

 No começo do século XVII o Japão viveu um período de paz, deixando centenas de samurais sem trabalho. Era mais raro os senhores de terra contratar o serviço dos bravos espadachins. Desesperados muitos samurais procuravam as casas de "seppuku", e como um blefe ameaçavam que iriam se matar devido a miséria que atingiam suas honras. Geralmente como um simples ato de solidariedade, eles recebiam pequenas ajudas monetárias.


O filme de Masaki Kobayashi, diretor do clássico "Kaidan", reproduziu a novela de Yasuhiko Takiguchi para o cinema de forma magistral. A película trata da história de dois samurais que procuram uma famosa casa de "seppuku". Motome Chijiwa (Akira Ishihama) é um corajoso professor que acuado por sua situação miserável e pelo desespero do filho e da esposa enfermos, resolve procurar uma casa cerimonial. Mesmo com uma simplória espada de bambu em punho, o jovem e desesperado homem blefa, para desconfiança dos senhores que trabalham na casa. Então Chijiwa é obrigado a cometer suicídio, de forma humilhante para se redimir da tentativa de fraude. Com duros golpes, o jovem mal consegue perfurar seu intestino, tal como manda a milenar tradição samurai. Quando consegue, ele é impossibilitado de fazer um corte em forma de cruz, pois arma que lhe tira a vida, mal serve para cortar uma beterraba. Ele acaba morrendo sem ter a cabeça decapitada, deixando sua esposa e seu pequeno filho, ambos na beira da morte.

O segundo samurai retratado na película é justamente o sogro de Chijiwa. Com ânsia de vingança o velho guerreiro chamado Hanshiro Tsugumo, sem nada a perder, vai a casa de "seppuku" que tirou a vida de seu genro. Lá ele é indagado sobre suas reais intenções quanto ao ritual de morte. Ele afirma sua vontade e diz que está lá para tirar sua própria vida. Tsugumo convoca um bravo samurai para decapita-lo, após o "harakiri", mas seu pedido não é atendido devido a ausência do guerreiro. Então ele pede mais dois homens, que coincidentemente (ou não) também estavam ausentes. Mesmo contra a vontade dos presentes, ele começa a contar a história de sua vida e porque estava naquela humilhante posição.


 "Harakiri" faz uma dura crítica a tradição dos samurais, e ao limite que um homem chega quando está desesperado. A cena que antecede a morte de Chijiwa com seus ângulos de câmeras revelando a angústia do personagem chega a ser comovente. Como uma exemplar obra cinematográfica nipônica, "Harakiri" é crucial quando desempenha o papel de entretenimento e reflexão. Os diálogos, sempre presentes na trama são cheios de matáforas que ilustram a emoção específica de cada personagem. As cenas de ação pecam pela coreografia das lutas, mas ganham com a beleza do enquadramento do fotógrafo Yoshio Miyajima.  Kobayashi era um grande seguidor do cinema de Kurosawa, em conteúdo e plasticidade como é retratado no imperdível "Harakiri".


Em 2011 será lançado outro filme sobre o tema, só que dessa vez o cineasta responsável, será nada mais, nada menos que o polêmico Takashi Miike.

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