Chan-wook Park é um cineasta das massas em seu país. Os sul-coreanos o veem como um diretor de filmes comerciais. Já os ocidentais tratam a plasticidade do prestigiado cineasta, como a mais rica obra de arte. Enquanto o vampirismo e a castidade se mesclam de forma puritana no lado esquerdo do planeta, através de fábulas modernas para adolescentes, os orientais sugam (com o perdão do trocadilho) do tema, o erotismo que sempre esteve impregnado desde a obra de Bram Stoker, em 1897.
São com imagens pitorescas, e uma edição bem trabalhada, que Park cria o sombrio mundo do pós-morte. Ainda mais, brincando com o tema da religiosidade cristã, que crê na ressureição dos mortos e na purificação da carne. No caso do Padre Sang-hyeon (Kang-ho Song, o grande astro de "O Hospedeiro"), um devoto homem de Deus que encaminha a alma dos fiéis moribundos para salvação, a filosofia cristã toma efeito contrário. Cansado do diário sofrimento que presencia no hospital em que trabalha, o padre torna-se cobaia de uma experiência afim de descobrir uma cura para morte. A doença que lhe acomete, acaba por mata-lo. Pelo menos, durante alguns segundos. Logo após seu último batimento cardíaco, Sang-hyeon "milagrosamente" ressucita.
Meses depois, e com fama de santo, o sacerdote retoma a sua vida e acaba por encontrar antigos conhecidos de infância. Como Lady Ra, que relembra dos tempos em que o padre orfão, ia à sua casa afim de comer macarrão, e brincar com seu filho Kang-woo. Crescido, seu amigo de infância é casado com Tae-ju (a bela Ok-bin Kim), uma moça que foi abandona por seus pais, e desde então passou a morar com Lady Ra.
Logo ao reconhecer a moça de sua infância, o Padre Sang -hyeon é acometido pela luxúria e por uma incessante sede de sangue. Sua audição e olfato ficam estremamente aguçados. O vampirismo, à príncipio, é tratado como uma enfermidade. Park direciona metaforicamente a doença, como o pecado que aos poucos consome o santo homem. Proporcionalmente, com seu anseio em reencontrar a fogosa Tae-ju, Sang-hyeon torna-se sombrio e segue seus instintos, esquecendo-se completamente dos preceitos cristãos que sempre o acompanharam. Contudo, o resultado da experiência que tinha tudo para transforma-lo em um bom homem aos olhos de deus, torna-se uma volumosa e sangrenta contagem de corpos.
Como uma aquarela sequênciada de planos plásticamente exuberantes e reviravoltas surpreendentes, Park cria paradoxalmente uma colorida trama sombria, com muita ação, erotismo, gore e romance. Basicamente uma película sem gênero específico, mas digna de ser a mais sádica da filmografia do cineasta, que tem no currículo "Oldboy", "Sr.Vingança" e "Zona de Risco".
"Sede de Sangue" é poético e crítico, e apesar de não ser a melhor película do aclamado diretor, consegue metricamente se abster de excessos. É como se o sexo, o sangue, a irônia, a poesia e tudo englobado na película, fosse meticulosamente calculado para não cair na apelação. São filmes como esses, que os ocidentais precisam aprender a fazer.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário