O título auto-explicativo da película resume a colcha de retalhos que Haneke "pinta" para retratar o dia-a-dia de cidadãos austríacos, antes de um massacre. Os fragmentos expostos pelo cineasta mostra o cotidiano dos personagens, juntamente com seus problemas.
Como parte da marca registrada do cineasta, Haneke filma situações corriqueiras, que aos olhos dos mais desapercebidos não passam de cenas banais. Dentre a linha de personagens da trama temos; um garoto romeno que migra para Áustria afim de achar um lugar melhor; um casal que a todo custo tenta agradar uma menina recém adotada de um orfanato; o idoso solitário que anseia pela companhia de sua filha, na qual trabalha como bancária; estudantes de tecnologia que a toda hora disputam jogos afim de apostar dinheiro; e um homem de emoções contidas, que esconde de sua esposa seus verdadeiros sentimentos.
A teia de personagens sem vínculos, encontram-se no trágico desfecho da trama, onde um dos personagens atira sem remoroso na multidão, que se aglomera dentro de um banco. O espectador é informado de tal massacre antes dos créditos iniciais, onde fica explícito que um crime violento ocorreu em Viena, próximo ao Natal de 1993. Contudo a construção de Haneke, mais uma vez eficaz (apesar de não ser um de seus melhores trabalhos), traça possíveis explicações para o desfecho já sabido. Os 71 fragmentos do título, são pontuados por notícias reais de guerra, que de fato são verdadeiros horrores midiáticos. Cadáveres expostos, pessoas desnutridas pelos conflitos, parentes de vítimas consternados, e outra gama de imagens fortes.
No fim da película, o incidente fictício junta-se às violentas notícias do telejornal, como uma pequena matéria. Haneke critica a banalidade na qual a violência é tratada pelos espectadores e pela mídia, que gradativamente estão acostumados com trágicas histórias. É como se cada matéria jornalística fosse apenas um fragmento de imagens contundentes, sem histórias de vida que aos olhos desumanos dos telespectadores são indiferentes, ou até inexistentes. É por isso que o cineasta, traça o cotidiano convencional das vítimas do massacre, ludibriando aqueles que buscam explicações para o derradeiro desfecho sanguinolento.
Michael Haneke, em seu terceiro longa, critica pela primeira vez os meio de comunicação. Em 1997, o aclamado "Funny Games" retrataria o sadismo do espectador por filmes violentos, tornando a contundência à valores destorcidos da sociedade, como um grande retrato de sua filmografia.
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