quinta-feira, 29 de abril de 2010

Barton Fink - Delírios de Hollywood (1991)

Em 1990, antes de finalizar o roteiro de "Ajuste Final", Ethan Coen e Joel Coen passaram por um bloqueio criativo, tal qual Fellini descreveu em sua obra-prima "8 1/2". A dupla então aproveitou a dificuldade para finalizar o projeto inicial, para escrever um outro filme. Surgia então "Barton Fink", filme em que os irmãos Coen retratam a luta de um homem, contra as barreiras intelectuais de sua mente.

Fink (interpretado muito bem por John Turturro) é um homem solitário, que vive à margem da sociedade. Sua intelectualidade não o deixa contemplar as coisas simples da vida. Aclamado em Nova York, por suas peças de contexto social, logo recebe uma proposta irrecusável para escrever filmes em Hollywood, em uma produtora de filmes B.
O produtor do estúdio lhe recebe em seu escritório e promete "mundos e fundos" para o tímido Barton Fink, caso ele escreva um simples filme sobre luta.

Incomodado e totalmente inapto para função que lhe fora incubida, Fink se sente mais sozinho no caloroso cúbiculo de um hotel. Sua cabeça é incapaz de escrever algo linear, sem conteúdo mais profundo. Até que conhece o simpático Charlie Meadows (John Goodman), um simplório corretor que mora no quarto ao lado. O homem se torna uma espécie de figura fetiche para Fink, que o sintentiza como um cidadão comum. Diferente de seu auto-conceito que o define como uma pessoa mergulhada em abstrações mentais. Sua capacidade para encontrar bloqueios criativos é a grande dificuldade que o tenta na hora de escrever o famigerado roteiro. Logo o recém conhecido amigo, torna-se seu maior confidente e pessoa de confiança.

A pressão para que o escritor finalize o filme aumenta gradativamente. Sua falta de criatividade leva-o a conhecer W.P.Mayhew (John Mahoney), um escritor consagragrado, que como Fink fora sugado pela indústria cinematográfica e se tornou bebum. Sua secretária e amante, Audrey Taylor (Judy Davis) tenta ajudar Mayhew em sua batalha diária contra o vício que o acomete. Fink se interessa pela moça, e a pede para que ela o ajude a construir o roteiro de seu filme.

Os fatos se intensificam, quando o protagonista desperta ao lado de Audrey assassinada brutalmente. Além disso, Fink descobre que seu melhor amigo Charlie, na verdade é um psicopata, e que sua aparente simplicidade é uma mera ilusão.

Ethan e Joel Coen deixam claro nesse filme, suas dificuldades durante o processo de criação de um escritor. Como uma crescente, a película torna-se mais complexa e poética. A dupla não se inspira em belas imagens para retratar idéias, mas sim em fatos que aparentemente simples. Tal como um papel de parede descolando, ou um quadro praiano que é constantemente observado por Fink. É como se o principal personagem fosse o alter-ego dos irmãos Coen.

De fato "Barton Fink" evidencia a fuga de seu protagonista que é incapaz de escrever um roteiro banal, devido ao fato dele perseguir uma idéia mais profunda. Tal ideologia é vista como um vício, na qual Fink tenta utopicamente se desvencilhar. E esse fator não lhe persegue apenas na hora de escrever, mas sim em toda sua vida.

"Barton Fink" é um exemplo de cinema de qualidade, com performances estupendas de Turturro e Goodman. Judy Davis também convence com o papel da ajudante de Mayhew, em um personagem chave da trama, cuja representatividade simboliza a ilusória fulga da mente dos escritores.

O dilema entre a banalidade ou a complexidade de uma estrutura narrativa no cinema, espelha a complexa trilha da dupla Ethan e Joel, que beiram o artístico e o mainstream ao mesmo tempo. Fink é a essência dos irmãos que até o começo da década de 1990, eram pouco conhecidos por suas obras pessoais. "Barton Fink" consagrou os irmãos Coen com a Palma de Ouro em Cannes e três indicações ao Academy Awards.

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