quarta-feira, 21 de março de 2012

O ABRIGO (2011)

 
   Até que ponto uma pessoa deve confiar em seus instintos mais primordiais? O medo é a manifestação de uma patologia psíquica? Ou um homem deve seguir seus preceitos até o fim em pró de sua família? São essa as perguntas que permeiam a perturbada mente do protagonista de "O Abrigo".

Michael Shannon interpreta Curtis, um devotado pai de família que trabalha como perfurador de poços. Sua esposa Samantha, interpretada pela atriz Jessica Chastain, é uma dedicada dona de casa e mãe de uma garota com deficiência auditiva. Um casal invejado pela união familiar, que transpõem barreiras de forma inigualável.

Na primeira cena do filme, Curtis se defronta com uma imponente  nuvem tempestuosa que indica um forte tornado. A água da chuva que cai é escura e barrenta. Subitamente o homem acorda do atordoante sonho, dando continuidade à sua pacata vida. Contudo, durante as noites seguintes, os pesadelos continuam à atormenta-lo, e prosseguem durante o dia em forma de alucinações . São delírios premonitórios de que uma grande catástrofe está para acontecer. Em outras visões, Curtis se vê acoado diante da ferocidade de seus conhecidos, que o ataca sem explicações plausíveis.


   A convicção do protagonista em omitir seu sofrimento para esposa é sempre colocada à prova. Escondido de Samantha, Curtis procura ajuda médica e teme pela sanidade, já que sua mãe sofre de esquizofrenia. Entre o dilema da loucura e da realidade, o atormentado homem materializa suas aflições, em forma de um abrigo anti-catástrofe. Com um alto empréstimo do banco, e com ajuda de seu melhor amigo, Curtis constrói o famigerado local que supostamente vai abrigar sua família. A grandiloquente paranoia do protagonista é criticada pelas pessoas ao seu redor, custando-lhe o emprego, o afastamento social e o desequilíbrio afetivo com sua esposa.



   Shannon se doa pelo personagem e, entrega uma das melhores atuações do cinema estadunidense de 2011. Apesar de viril, o protagonista transparece confusão e fragilidade, em um desempenho soberbo, que foi até prestigiado pelo críticos de Nova York como melhor ator. Já Jessica Chastain se firma a cada papel como uma das melhores atrizes da nova geração. Inclusive ela foi indicado ao Oscar por "Vidas Cruzadas", um trabalho muito inferior se compararmos com a da fiel esposa de "O Abrigo".


   Depois de trabalhos desconhecidos no cinema independente dos EUA, o diretor e roteirista de "O Abrigo", Jeff Nichols, ganhou reconhecimento no último Festival de Cannes, após a exibição da película. A construção dos personagens no roteiro de Nichols é uma das mais densas que eu vi desde "Sangue Negro" de Paul Thomas Anderson. O crescente suspense do filme, e o sentimento de que algo de muito ruim vai acontecer, envolve o espectador a cada minuto.


   A ausência de "O Abrigo" na última entrega do Oscar, só consolida a falta de credibilidade da Academia, e o rigor que os membros têm com produções baratas, tal como essa pequena pérola orçada em U$ 1 milhão. Dinheiro esse muito bem empregado, principalmente pela grandiosidade dos efeitos especiais referentes às cenas de tormenta, em que as nuvens negras pairam assustadoras, para aflição e desespero do protagonista.



"O Abrigo" é um daqueles filmes que tem tudo para se tornar um "cult". Sua ausência em importantes premiações e a pouca divulgação por parte do estúdio responsável, torna a película ainda mais atraente. Uma grande obra moral de contemplação, que certamente vai te envolver também. Recomendo muito.

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