terça-feira, 24 de janeiro de 2012

GIMME SHELTER (1970)

Poucos documentários ousam ser tão assustadores como "Gimme Shelter". A América do "paz e amor" desfigurada pela concepção do álcool e dos intorpecentes, ainda norteia o consciente estadunidense, da clicherizada expressão que designa toda uma geração; sexo, drogas e rock n´roll. Enquanto festivais de rock permeavam a América, no fim da década de 60, tal como Woodstock, a maior banda de rock do período, os Rolling Stones, fecharia a sombria noite de Altamont, Califórnia. Como de improviso, os organizadores do evento se depararam com uma logístíca absurda e infligem o bom senso, para dar lugar a mais de 150 mil jovens em uma fazenda aos arredores de San Francisco.

O concerto em Altamont ficou conhecido como uma espécie de "Woodstock Negro", totalizando 4 mortes. Toda a ação registrada pelas astutas lentes dos irmãos Maysles, conhecidos documentaristas que inovaram no modo de fazer películas não fictícias, registram cenas de violência descabida e de degradação humana. Como em um suspense "hitchcockiano", Albert e David criam uma tensão crescente diante das ações juvenis. Entre elas, registros de pessoas ensandecidas pelo consumo de drogas, jovens ensaguentados, traficantes vendendo LSD e casais lascivos, mesclados em um pastiche étnico de brancos, negros e hispânicos presentes.  Todas as ações, também, são acompanhadas pelos perplexos músicos britânicos, que fazem questão de rever os momentos de angústia vivenciados, dias após o show.


   O contexto do filme é apresentado como uma turnê dos Rolling Stones, que depois de três anos, retoma aos EUA. Caracterizado com o simbólico chapéu de Tio Sam, Mick Jagger extravasa sua famosa excitação nos palcos americanos, improvisando seus característicos rebolados. Keith Richards, com suas roupas hippies, entoa o possante som de sua guitarra, para delírio dos fãs. O apreço dos músicos no começo da película, contrasta com a tensão de um Jagger estático em Altamont, entoando sua famosa "Sympathy for the Devil", enquanto Richards revolta-se com o público pelas constantes interrupções do show.



O palco improvisado é invadido por "hell angels" mal encarados, que cercam a banda, como se o local fosse um território conquistado. A mercê dos motoqueiros, e testemunhando a série de brigas, a banda continua o show em "piloto automático", perplexas com as astrocidades diante de seus olhos. Durante os registros do famoso show, um dos cinegrafistas tem a frieza de desfocar Jagger, afim de registrar a faceta de um "hell angel" em estado de delírio, a poucos metros do cantor. Assustador.



Diferente das ficções, em "Gimme Shelter" sabemos o trágico desfecho daquela tentativa de pacificação, que sai pela culatra. Os irmãos Maysles prende o espectador com uma edição bem dinâmica, não focando apenas nas faces escaveiradas dos membros do Rolling Stones, mas também na trupe dos hippies cabeludos, que em êxtase, marcaram em massa o show beneficente. Além de ser um registro histórico, o documentário oferece aos fãs da banda inglesa, o lado mais humano de celebridades quase imunes a mortalidade.


   "Gimme Shelter" é um dos grandes documentários produzidos nos EUA, simbolizando a frustração de uma pátria sucumbida pelo sangue, em tempos revoltos de conflitos no Sudeste Asiático. A epopeia grandiloquente fornecida por Mick Jagger e sua trupe, não fora suficiente para amenizar uma América falida e moralmente ferida.

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