Em qual local e período você gostaria de ter feito parte? O poder nostálgico, mesmo que não vivenciado é bastante comum. Eu por exemplo gostaria de ter feito parte da efervescência da Hollywood dos anos 40, ou ter testemunhado a criação da Nouvelle Vague na Paris dos anos 50 e começo dos 60. Ou quem sabe presenciar o cenário pós-punk que reinava em Londres, em pleno governo de Margareth Thatcher, . Para Woody Allen, e seu alter ego Gil (Owen Wilson), o período mais rico culturalmente falando, fora a "Era de Ouro" na década de 20. O cenário não podia ser mais romântico; a charmosa capital francesa. Era lá que a vertente artística da literatura, pintura, música e cinema se reunia. Grandes nomes como Cole Porter, F.Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Gertrude Stein, Pablo Picasso, Salvador Dalí, Man Ray e Luis Buñuel, circulavam pela cidade luz, durante a efervescência cultural da cidade.
É essa rica gama de acontecimentos triviais para a história da arte do século XX, que nosso protagonista testemunha em suas viagens ao tempo. Apesar de ser bem-sucedido como um roteirista hollywoodiano, Gil vai à Paris com Inez, (Rachel McAdams) sua noiva, afim de terminar um romance no qual trabalha. A relação entre o casal não é das melhores, pois os dois discordam de muitas coisas. Enquanto Gil anseia por viver em Paris, Inez deseja manter residência em Malibu. Se a química entre os dois não era das melhores, com a presença do pseudo-intelectual Paul (Michael Sheen) então, fica pior. Como forma de escapismo Gil adentra na Paris que sempre fantasiou, e que agora pode fazer parte. Ele então passa a retroceder quase cem anos, para enfim se sentir em casa. É nessa "viagem ao tempo" que ele conhece Adriana (Marion Cotillard), uma frustrada estudante de moda, que serve de inpiração para os quadros de Picasso. Como Gil, Adriana também anseia por tempos remotos, e sonha com a "Bella Époque" que vigorou na bela Paris do fim do século XIX.
Woody Allen faz um belo ensaio sobre a nostalgia, que me lembrou bastante de seus tempos áureos de pérolas como "A Rosa Púrpura do Cairo" e "Zelig". Apesar de agridoce e menos contundentes que seus últimos trabalhos, "Meia-Noite em Paris" mostra a boa forma do famoso cineasta novaiorquino, em analisar, criticar e homenagear, mesclando o realismo com a fantasia. Não é a toa que o filme está indo bem nas bilheterias dos EUA, e ainda na terceira semana não saiu do TOP 10.
Já Owen Wilson não é um ator brilhante, mas é inteligente. O astro, que já fez muitas coisas ruins, destacou-se como roteirista e colaborador do excelente diretor Wes Anderson. Apesar de não ser um grande ator, em "Meia-Noite em Paris", Wilson incorpora o melhor alter-ego de Woody Allen, dos últimos anos. Méritos do cineasta, que sempre guiou seus atores da melhor forma possível. No filme, Salvador Dalí (Adrien Brody) é muito bem articulado, apesar de excêntrico. Já Ernest Hemingway (Corey Stall) evidencia sua masculinidade com charme e inteligência. F.Scott Fitzgerald (Tom Hiddleston) é dotado de uma gentileza ímpar, e uma paixão angustiante por sua impulsiva amada, Zelda Fitzgerald (Alison Pill). Woody Allen de fato não perdeu a mão em direção de atores, e faz uma bela homenagem a Paris, e a sua rica história cultural.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário