Segue abaixo três grandes filmes que vi nesse último mês, que coincidentemente abordam um assunto em comum; a estrutura familiar problemática e suas consequências.
Inverno da Alma, 2010
Dirigido por Debra Granik
O termo "country-noir" adotado pela crítica literária, define a obra de Daniel Woodrell. O autor norte-americano destrincha um lado obscuro dos EUA, distante do incasável apelo "american dream". Em seus romances a América é feia e selvagem, bem como seus habitantes. "Inverno da Alma" é um suspense protagonizado por Ree (Jennifer Lawrence indicada ao Oscar), responsável garota de 16 anos que precisa educar seus irmãos caçulas. A mãe dos jovens encontra-se debilitada, e o pai está desaparecido. Graças a uma dívida do patrono, a família é ameaçada de ser despejada da casa que residem. A responsável e sofrida primogênita emcube-se de achar o paradeiro de seu pai. Com ajuda do seu violento tio Teartrop (John Hawkes também indicado ao Oscar), ambos partem para uma busca perigosa que envolve rixas familiares envolto do clima hóstil das montanhas Ozarks, no sul do estado de Missouri."Inverno da Alma" não é apenas um suspense pontuado de excelentes atuações, mas também uma sutil crítica ao exército estadunidense. No filme fica evidente que as Forças Armadas apelam para o lado pobre da América, garantindo dinheiro para aqueles que se alistam. O posto do exército fixo na cidade retratada pelo filme, representa a América uma garantia de soldados, que abandonam suas privações financeiras, afim de arriscar a vida em campos de batalhas ao redor do mundo. "Inverno da Alma" começou sua trajetória bem sucedida no Festival de Sundance de 2010, e garantiu seu lugar entre os 10 melhores filmes segundo a Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood. Um dos cinco melhores da lista de indicações de melhor filme.
Submarino, 2010
Dirigido por Thomas Vinterberg
Nick e seu irmão mais novo são filhos de uma mãe alcoólatra e ausente, que depois de anos se reencontram no funeral da progenitora. Ainda pequenos, os garotos passam por um trauma que os levam a tomar um rumo errado na vida. O mais novo é um viúvo viciado em heroína que tem seu filho como a única inspiração para viver. Já Nick é um homem que acabou de sair da prisão. Ele divide seu tempo entre a musculação, o sexo descompromissado com sua vizinha, e a passar o dia todo bebendo cerveja. Até que ele reencontra Ivan, um velho amigo jogado na sarjeta. "Submarino" é divido em três partes. A introdução quando apresenta os protagonistas na infância; a segunda parte mostra a sofrida vida de Nick; na terceira parte o filme revela a relação do irmão caçula, e seu pequeno filho chamado Martin. Thomas Vinterberg, volta ao tema que o consagrou. As relações problemáticas de uma família e suas consequências para vida. "Festa em Família" de 1998, sua película mais famosa era engajada no movimento Dogma 95, criado por Vinterberg e Lar von Trier. O filme é o grande retorno do cineasta dinamarquês que na última decada não dirigiu filmes brilhantes(Querida Wendy e Dogma do Amor foram os mais conhecidos).
Still Walking, 2008
Dirigido por Hirokazu Koreeda
O Japão também não pode ficar de fora quando o assunto são famílias problemáticas. A sociedade nipônica e seus dogmas estabelecem relações pouco convencionais se comparadas ao ocidente. Em "Still Walking" o cineasta Hirokazu Koreeda, frequente crítico dos tradicionais costumes japoneses, dirige uma obra sobre o arrependimento. Ryota é o filho do meio da família Yokoyama. Seu irmão mais velho morreu afogado ao tentar salvar um jovem na praia. Já sua irmã Yukari é uma mãe de família que constantemente mantem contato com seus pais. Diferentemente de Ryota, que ao contrário da irmã caçula, os evita. O patriarca da família é um médico aposentado, que passa seus dias caminhando pela vizinhança afim de fugir do tédio que o acomete. Sua esposa é a atenciosa Toshiko, uma típica dona de casa japonesa obcecada por borboletas amarelas tal como a morte prematura de seu primogênito. "Still Walking" conta a história da família no aniversário de 12 anos da morte do filho mais velho. Ryota, leva sua segunda esposa e seu afilhado para conhecer enfim sua tradicional família. A película não é tão conhecida como "Nobody Knows" (2004), do mesmo cineasta, mas arrisco dizer que é melhor. Os diálogos tocantes e a poesia visual aliados às atuações inspiradíssimas do elenco, ilustram com êxito a complexidade da moderna família nipônica.
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