8½ (1963) de Federico Fellini- ITÁLIA
Com: Marcello Mastroianni, Claudia Cardinale, Anouk Aimée, Sandra Milo e Rossella Falk
Há uns cinco ou seis anos aluguei um antigo VHS de 8½ em uma locadora perto de casa. A fita bem escondida entre velharias empoeiradas estava mal rebobinada. Desde aquela época sabia da importância desse filme para a história do cinema, e portanto decidi assisti-lo. Ao inserir a fita no video cassete de casa, não consegui supotar os frenéticos quinze minutos iniciais. Aquilo tudo me pareceu muito sem sentido, e cai na real que ainda não tinha uma bagagem cinematográfica suficiente para gozar da famigerada obra italiana. Pressionei o botão de "stop" do controle remoto, e decidi que deixaria o filme para depois. Anos depois e cá estou maravilhado com o que posso afirmar categoricamente como o maior roteiro escrito pela sétima arte.
"8½" continua complexo, cheio de devaneios de seu inseguro protagonista Guido Anselmi (Mastoianni soberbo). A premissa é bastante conhecida e até parece simples. Anselmi é um consagrado cineasta que não consegue ter idéias para seu próximo filme. Toda equipe do filme o pressiona, mas o cineasta vive compenetrado em sua realidade onírica, tranportando-o para lembranças de infância e anseios reprimidos.
Explicitamente "8½" é uma auto -biografia surreal de Federico Fellini. Fica evidente que o filme que os personagens tanto questionam, é o mesmo que o espectador assiste. Fellini brinca com a metalinguagem em todo longa. Por exemplo, em determinado moment Guido diz que tem liberdade para fazer o que bem entender em sua película, como colocar um marinheiro dançarino no meio de uma cena. Nesse instante ele chama um homem que invariavelmente surge em cena e começa a esboçar patéticos passos de dança.
Seus verdadeiros medos sobre as eventuais críticas que possa receber, estão explicitos no filme, tal como seu ódio pelos críticos. O fascínio pelas mulheres, tal como sua falta de romantismo também embalam os geniais diálogos da trama. Por vezes fica tão evidente a falta de segurança do alter-ego de Fellini, que Guido se questiona sobre a suposta pretensão e egocentrismo que a película pode trazer a tona. E além de se transportar para o protagonista da trama, Fellini dá espaço para as severas críticas de um intelectualóide que passa o filme todo reprimindo e censurando o cineasta.
Mas se tem algo de inovador, até para os padrões atuais é a ânsia das criaturas criadas por Fellini em saber qual o verdadeiro significado de tudo aquilo. Nos instantes finais Carla (Sandra Milo), a fútil e fogosa amante de Guido, ao lado de todo elenco dá sua versão para o caótico desfecho. "Tudo isso significa que você não consegue viver sem a gente", dando a entender que sua compreensão está totalmente equivocada, já que se trata da personagem mais estúpida do filme. E como crianças, todos os personagens de "8½" fazem uma roda em torno de um misterioso foguete (simboliza o fictício filme que aparentemente não se concretizou). Como se dançassem ciranda ao som de uma fanfarra, Fellini brinca com seus personagens mostrando ao espectador mais atento que o cinema em si é um espetáculo circense, lúdico ou complexo como a vida.
Fellini se observa em Guido
Valeu esperar.
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