Por Carlos Larios
(contato@larioscine.com)
Positivamente ou não, a filmografia intimista de Haneke dificilmente passa
despercebida. Em seu primeiro grande
filme chamado "O Sétimo Continente”, o cineasta já imprimia a contundência
tão conhecida de sua obra. Os longos “takes”, aparentemente banais, mas com
conteúdo latente, já faziam parte de seu estilo único de filmagem. Seja em
cenas como uma menina alimentando seus peixes no aquário, ou uma mulher
calçando chinelos logo ao acordar, nada é gratuito para o premiado diretor
austríaco. São esses nuances que formaram o famigerado estilo que mescla poesia
com realismo agressivo.
Antes de sua bem sucedida carreira como cineasta, Haneke graduou-se em filosofia. Por conta de sua visão crítica de mundo, os temas favoritos do austríaco sempre tiveram um mote intelectualizado, abordando temas idiossincráticos que podem ser facilmente discutidos em teses e trabalhos acadêmicos.
O pungente retrato familiar permeado pelo customizado cotidiano embala "O
Sétimo Continente". Pai, mãe e filha são personagens metafóricos que
Haneke explora com surpreendente frieza, tratando-os como meros robôs programados.
Seus anseios ilustram a cruel realidade de uma sociedade pós-moderna,
mergulhada cada vez mais no consumismo exacerbado, sem se dar conta dos reais
valores da vida.
A abrupta e impulsiva destruição só é aliviada por uma paradisíaca imagem
praieira, retratada em uma foto. O escapismo emanado do registro fotográfico é
apenas um falso alívio para os problemas que permeiam o vazio existencial dos
protagonistas. Um local inalcançável que utopicamente merece ser descoberto,
tal como um “sétimo continente”. Haneke é genial.
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