No começo
da década de 70, uma leva de cineastas estadunidenses se contrapunha aos
estúdios, a fim de produzirem obras mais realistas. Seus filmes eram retratos
fiéis de uma nação que se dizia superiores, mas que cambaleava entre escândalos
políticos e fracassos bélicos. Suas obras imprimiram uma sub-cultura
crua ao fadado cinemão dos EUA. A crítica dos jovens diretores castigava o
conservadorismo patriótico e manchava o famigerado lema do "american
dream".
Entre
esses jovens e talentosos cineastas está Monte Hellman. Mesmo não sendo tão
conhecido como os cineastas de sua época, o diretor possui uma história representativa
no cinema independente americano. Hellman foi um dos inúmeros talentos
inestimáveis que recebeu aporte do legendário produtor Roger Corman. Entre as
parcerias de Hellman e Corman, destacam-se as películas de faroeste, que foram
reconhecidas internacionalmente pela crueza imprimida na tela. A revista
francesa "Cahiers du Cinema", por exemplo, elegeu "A Vingança de
um Pistoleiro" como um dos melhores filmes de 1965.
Seu
estilo europeu em retratar a América (seus faroestes lembram muito o ´spaghetti
western italiano´) levou a Universal a produzir sua maior obra-prima -
"Corrida sem Fim". Apesar de ser vangloriado pela crítica, o filme
foi um fiasco nas bilheterias. Hellman, então, voltou a contar com a
colaboração de Corman para o filme mais polêmico de sua carreira - "Galo
de Briga".
A personalidade e talento do
cineasta atraíram nomes de peso como o do legendário diretor de fotografia
espanhol Nestór Almendros. Lewis Teague, que anos mais tarde seria
reconhecido como cineasta de películas como "A Jóia do Nilo", "Cujo",
"Olhos de Gato" e "Alligator", também integrou a equipe,
sendo o responsável pela montagem da película.
"Galo de Briga" conta a
história de Frank (Warren Oates), um treinador e apostador de rinha onde duelam
galináceos. Por falar mais do que devia, e por perder muito dinheiro, o
protagonista decide se calar até que consiga vencer o principal torneio de
briga de galos da região. Seu fascínio em torno do cruel jogo de apostas é mal
visto por Mary (Patricia Pearcy), sua derradeira paixão. A moça, que também o
ama, dá um ultimato para que Frank largue esse tipo de vida.
O dilema entre o amor de uma
mulher e de seu modo de viver logo se dissipa, diante da oportunidade em
disputar o famigerado torneio de rinha. Com ajuda do sócio Omar (Richard
B.Shull) e de Buford (Robert Earl Jones, pai de James Earl Jones), Frank
precisa recuperar o orgulho perdido. Para isso o protagonista terá que vencer
uma aposta com Jack Burke (Harry Dean Stanton), seu maior rival. O durão
Frank é um homem marginalizado por suas virtudes, que busca em algo aparentemente
banal, sua redenção. Essa característica contrapõe-se à idealização
heroica que o cinema americano pregava para seus protagonistas..
Baseado em um romance de Charles
Willeford, "Galo de Briga" é mais despojado que as películas
antecessoras de Hellman, mas não menos complexa. O foco do cineasta na
população rural extrai a verdadeira essência de um país como os EUA. São nas
cidades interioranas que habitam grande parte da população, que mesmo na década
de 70, ainda gozava de estilos de vidas ultrapassados.
Controverso, "Galo de
Briga" já diverte pelo tema pouco convencional, sem perder a contundência
em desmistificar àquela imagem da América "feia" e "suja",
pouco explorada pelo cinema estadunidense.
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