sábado, 30 de outubro de 2010

MORTE EM VENEZA (1971)

Baseado no livro homônimo de Thomas Mann, "Morte em Veneza" é o segundo filme da trilogia alemã (o primeiro é "Os Deus Malditos" de 1969 e o terceiro é "Ludwig-A Paixão de um Rei" de 1972) de Luchino Visconti. A película do consagrado cineasta italiano ganhou diversos prêmios ao redor do mundo, inclusive em Cannes, em 1971.

"Morte em Veneza" conta a história do compositor alemão Gustav von Aschenback (Dirk Bogarde), um aristocrata talentoso e perfeccionista que traça sua vida minuciosamente como uma nota de acorde. Após um mal-estar ocasionado por um problema cardíaco, o artista decide viajar para Veneza, afim de afastar as angústias de seus pensamentos. É na cidade das gôndolas que Aschenback vislumbra um jovem adolescente chamado Tadzio, na qual o idealiza como padrão de beleza, e assim acaba por se apaixonar.

Luchino Visconti não foca no homossexualismo evidente do protagonista, mas sim em sua tortuosa batalha pessoal, que não o possibilita de ser feliz. Aschenback é prisioneiro de sua moral, na qual limita seu convívio e bem estar na sociedade. Tomado pela melancolia, o artista sufoca em lembraças degradantes durante sua viagem à Veneza. Impulsionado pelo amor platônico que nutre pelo jovem Tadzio, Aschenback tenta dar mais uma chance a si mesmo, para se desvencilhar do sistemático antro de negações que tanto o tortura.

Além da soberba transição entre a obra literária de 1912 e a cinematográfica feita pelo próprio Visconti, "Morte em Veneza" se caracteriza como um filme tecnicamente perfeito. Sua trilha sonora crescente, ilustra os dilemas do protagonista. Tal qual a límpida fotografia, que sutilmente vangloria as belas paisagens de uma cidade triste e redentora.O figurino recebeu uma solitária indicação ao Oscar de 1972, mostrando a falta de sensibilidade dos membros da Academia em relação aos filmes mais artísticos, desde aquele período.

sábado, 9 de outubro de 2010

SOZINHO CONTRA TODOS (1998)

Quem acompanha o mundo do cinema minimamente, já deve ao menos ter ouvido falar em "Irreversível" de 2002. O filme escandalizou críticos em Cannes, e adquiriu status de "cult" no começo da última década. Desde a edição do filme, que começa pelo desfecho e termina no início. Até a violência gráfica impregada nos minutos iniciais da trama, passando pelo icônico estupro que chocou milhares de cinéfilos ao redor do planeta. "Irreversível" dividiu críticos mais conservadores, que defendiam a idéia de um cinema doentio dirigido e concebido por um tal de Gaspar Noé. Em contrapartida haviam aqueles que conseguiram entender o estilo do cineasta argentino, radicado na França, e o acharam genial por isso.

Apesar de sua filmografia ser limitada por poucos longas, Noé ganhou notoriedade por consolidar imagens contundentes e viscerais. Sendo que em todas suas obras, o cineasta tentou inovar sua técnica, seja na montagem, fotografia ou trilha sonora.

Mas foi quatro anos antes de chocar Cannes, que Gaspar Noé criou seu primeiro filme emblemático, reunindo todas características descritas anteriormente. "Sozinho Contra Todos" é aparentemente um dos filmes mais pessimistas da história. Nele, temos como protagonista um homem de cinquenta anos (Philippe Nahon) que passou por grandes traumas na vida. Desde sua infância, quando fora abandonado pela mãe, enquanto o pai tinha morrido em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Até quando juntou dinheiro para conseguir montar seu próprio negócio como açougueiro. Entretanto fora traído pelo impulso paterno, que o fez acreditar falsamente no estupro de sua filha. O declínio moral se deu graças a um ataque de fúria, no qual feriu um inocente. Perdeu seu açougue, sua única filha, e sua vontade de viver. Quando terminamos de saber sobre quase toda sua vida, nos damos conta que se passaram poucos minutos da metragem do filme. E que a voz que narrava as desgraças da vida do personagem, era a do próprio açougueiro.

"Sozinho Contra Todos" é o registro exacerbadamente pessimista da vida, e de qualquer conceito conhecido de felicidade. O tal açougueiro, que protagoniza o filme, tenta nos convencer de nossa insignificância, pontuando comentários sobre família, dinheiro, sexo e morte. Paradoxalmente, o homem procura incessantemente pelo alívio de seus sofrimentos. A príncipio esperançoso por um trabalho novo, o açougueiro deposita confiança em sua segunda mulher, que pode ajuda-lo a alugar uma loja na qual possa começar um novo negócio. Contudo seu plano não vinga. Sobra-lhe apenas, um emprego como vigilante noturno de um asilo. Frustrado e sentindo-se rejeitado pela vida, o homem em um acesso de raiva agride sua mulher grávida, e espanca sua barriga. O filme então se limita a mostrar o declínio de uma vida já desgraçada o suficiente.

Por trás das palavras que banalizam a existência humana, existe uma voz que anseia por um alívio imediato de suas mazelas. E é esse ideal que fica subjetivado dentro da película, trabalhando a mente do espectador como se fosse psicologia reversa. Gaspar Noé, torna-se assim um bom sujeito, fugindo de rótulos de doente depressivo e sádico (tal como fora descrito em algumas críticas em 2002). Com ajuda da frenética edição da película, "Sozinho contra todos" abre a discussão do apelativo e imoral dentro do cinema. E como uma forma de brincadeira, dentro do próprio filme, o espectador é avisado para deixar de assistir o desfecho, caso o mesmo seja impressionável. Mas aqui fica minha dica; assista o final e se impressione com a sutileza de um cineasta, que paradoxalmente, abomina o discreto.
 

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