Ao ler a sinopse de "Casa Vazia" (Bin-Jip), logo associei com "Following" (1998) de Christopher Nolan. Em ambos os filmes, um sujeito invade a casa de um desconhecido sem pretensões de furtar algum objeto. No caso da película de Nolan o protagonista cria um jogo invadindo a propriedade alheia enquanto seus donos não estão presentes. Já no filme coreano dirigido e escrito por Kim Ki-duk, o principal personagem adota essa mania como um peculiar estilo de vida. Fora da presença dos proprietários, o homem come, dorme e usufrui de tudo que tem direito. Na sua mochila apenas uma singela máquina fotográfica para registrar sua presença ao lado da foto da família dona da casa. Em troca ele concerta objetos quebrados e lava roupas sujas.
Ao invadir uma mansão, o sujeito depara-se com uma bela mulher vítima de violência doméstica. Seu marido retorna a propriedade e passa a agredi-la novamente. O ato é testemunhado pelo invasor que taca bolas de golfe no dono da casa. Em silêncio a esposa ferida decide fugir de seu violento marido e parte com o misterioso homem. Seguindo os costumes do rapaz a mulher invade algumas residências junto com ele. Através de planos silênciosos e poéticos, Duk leva ao espectador essa paixão reprimida do rapaz e da moça, que dividem a solidão. Quando o casal enfim é pego, a trama sofre uma grande reviravolta e dá espaço a cenas lúdicas. O rapaz é preso e a mulher retorna ao seu antigo e triste lar. Com meditação o antigo invasor treina dentro de sua cela para se tornar imperceptível. Já a mulher aguarda melancólicamente seu amado sair da prisão.
O final beirando ao surrealismo mantem uma tradição importante do cinema oriental; a mística. Através do ritual do protagonista encarcerado, Duk metafora os anseios do homem que apenas busca a felicidade. Seu jeito de vida peculiar não é aceito pela sociedade, portanto o melhor caminho é driba-la conforme lhe convem. Segundo o cineasta coreano, cada um é dono de seu destino e com a figura silenciosa do protagonista, Kim Ki-duk consegue ilustrar isso para o espectador.
Apesar do enredo complexo e recheado de mitologia e poesia, "Casa Vazia" ou "Ferro 3" (tradução literal) deve ser apreciado por todos fãs do cinema oriental.
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