Por Carlos Larios
"Dos mesmos produtores de Alice no País das Maravilhas" estampa o pôster americano de "Branca de Neve e o Caçador". E como era de se esperar, o tom sombrio criado por efeitos CGI permeia a conhecida história de "Branca de Neve e os Sete Anões", tal como em "Alice" de Tim Burton. Contudo os pequenos companheiros da princesa que sofrem de nanismo, perdem espaço e dão lugar ao caçador, que ganha maior importância no filme.
A narrativa de
"Branca de Neve e o Caçador" é construída em cima da famosa
fábula criada pelos Irmãos Grimm, mas contrapõem-se às coloridas adaptações
cinematográficas. Aqui a Floresta Negra é realmente perigosa e intimidadora,
servindo de moradia para criaturas bestiais. A meiguice dos sete anões é
comparada a de atrozes guerreiros bárbaros. A crueldade da malvada
rainha origina-se de uma vida de amargura e decepções
amorosas, despertando assim a vaidade homicida da rancorosa
vilã. Portanto, não se atente ao tradicional conto de fadas para não
se surpreender com aperitivo de tripas de corvo, perfurações com objetos pontiagudos e outras
cenas pouco sutis no decorrer da trama.
Os realizadores do
filme abusaram da liberdade poética para dar o tom sombrio à história.
Contudo fica evidente que a base adotada pelo escritor Evan Daughery e os
roteiristas do filme, foi livremente inspirada nos contos de J.R.R.Tolkien, e
não apenas nos Irmãos Grimm. O mundo medieval criado para
"Branca de Neve e o Caçador" assemelha-se àquele que Peter Jackson transpôs
para às telas de cinema. Assistindo a trechos isolados da trama, como nas
batalhas contra o exército negro e as tomadas aéreas da jornada de Branca de
Neve, fica evidenciado o dejá-vú tolkiano. Sem se esquecer dos
rabugentos anões com sotaque britânico, que cantarolam canções seculares como
as entoadas em "O Hobbit".
Dotado de belos
efeitos especiais, a película transporta o espectador a um mundo de fantasia
repleto de criaturas místicas e paisagens deslumbrantes. Tiro como exemplo o
medonho troll que vive na Floresta Negra. A confecção da criatura foi tão bem
elaborada que a pele do monstrengo é visivelmente constituída por cascas de
árvores e musgos. Um trabalho impecável dos técnicos responsáveis pelos efeitos
digitais.
Entretanto o
universo promissor redesenhado para esse filme, não teve o suporte que merecia.
O roteiro segue uma estrutura narrativa simples, com reviravoltas convencionais
e uma porção de clichês batidos. E dá-lhe discursos motivadores seguidos por
celebração, velho sábio como aconselhador, reviravoltas previsíveis, batalhas
campais dignas de "Coração Valente" e heroína pura que se transforma
em uma impiedosa guerreira. Sim caros (as) leitores (as), a
"inocente" Branca de Neve de sua infância perfura alguns guerreiros a
serviço da poderosa rainha.
E se não bastasse
o enfadonho argumento do filme, as atuações dos protagonistas não ajudam muito.
Começando por Chris Hewsworth que interpreta o Caçador. Querendo se
desvencilhar da sombra de Thor, o ator australiano entrega um personagem durão
semelhante ao deus asgardiano da Marvel. Já Charlize Theron se esforça como a
malvada madrasta, e até convence no papel da algoz de uma Branca de Neve bem
insossa.
Já Kristen
Stewart, que interpreta a famosa princesa dos Contos de Fadas, continua a
mesma. A atriz que se diz seguidora do famoso método de atuação criado por
Constantin Stanislavski, é de longe a dona da pior interpretação do longa. Sua
conhecida expressão da saga "Crepúsculo" permanece intacta.
Desprovida de qualquer tipo de carisma que a personagem necessita, Stewart
interpreta uma Branca de Neve fria, inexpressiva e nenhum pouco
simpática. As limitações cênicas de Stewart poderiam ser maquiadas por um
diretor competente, mas com a realização do novato Rubert Sanders, só se tornam
mais gritantes.
A falta de
experiência do cineasta também compromete a película em outros aspectos.
Preocupado em dar closes desnecessários de vasos caindo no chão e focar nos
cabelos esvoaçantes da protagonista que cavalga à beira da praia em câmera
lenta, Graves entrega uma película piegas e extremamente esquecível. Mesmo com
a primorosa cenografia e efeitos, o filme cai em erros banais como flashbacks
sépios, trilha-sonora enjoada composta pelo veterano James Newton Howard e
falta de química entre os personagens da trama.
"Branca de
Neve e o Caçador" é bem intencionado, mas se perde na falta de talento de
membros importantes da produção, e na obviedade do roteiro. O filme só não é
pior devido à catarse visual criada pela equipe técnica. Uma dispensável e
preguiçosa adaptação sombria da obra dos Irmãos Grimm.