Carlos Larios
(contato@larioscine.com)
Por sete anos, acompanhamos a saga do bilionário Bruce Wayne e de
Batman, seu alter ego justiceiro. Do treinamento sob a tutela de Ra's Al
Ghul até a apoteose do herói, são 456 minutos de ação, crise existencial,
debates éticos, atuações impecáveis e realismo jamais empregado anteriormente
em uma obra fantástica. A trilogia escrita e dirigida por Christopher Nolan, não agradou apenas aos fãs dos quadrinhos de Batman, mas também aos cinéfilos e a crítica.
Nenhum estúdio
tinha dado tanta liberdade artística em um blockbuster como a Warnez fez com
Nolan. De forma notável, a lendária produtora entregou um dos personagens mais
famosos da cultura pop, nas mãos de um britânico quase desconhecido, que vinha
apenas com três películas "embaixo do braço". A confiança rendeu
bilhões de dólares para os cofres da Warner, além de prestígio do cineasta
diante da crítica.
O aguardado
desfecho da franquia do Homem-Morcego comprova mais uma vez que, o terceiro
filme é quase sempre a produção mais fraca de uma trilogia de sucesso. Foi
assim com inestimáveis obras como "O Poderoso Chefão", "Star
Wars", entre uma infinidade de cine séries. E não é diferente com
"Batman de Nolan".
Embate entre Bane e Batman
Motivados pela liberdade cênica que o diretor permite, seria pleonasmo destacar as boas atuações do elenco, tanto dos novatos quanto dos atores que participaram dos três filme. Portanto, não
vou me estender em dissecar as conhecidas performances dos veteranos, Christian Bale
(Bruce Wayne/Batman), Gary Oldman (Comissário Gordon), Michael Caine (Alfred) e Morgan
Freeman (Fox) que mantêm o desempenho de seus papéis, com a mesma qualidade de
outrora. Contudo, é inevitável a confrontação entre os vilões do segundo e
terceiro filme.
Devido a característica mascarada do vilão Bane se diferir das facetas
do excêntrico Coringa de Heath Ledger, é difícil manter
comparações equivalentes. Contudo, pode-se ressaltar que ambas as atuações tomaram
preparação física e psicológica, em consequência da complexidade emocional dos personagens. No caso de Tom Hardy, a
musculatura precisou ser desenvolvida para imponente caracterização do vilão. Além
do trabalho físico, o astro britânico precisou engrossar a voz para moldar a
potencia vocal de Bane.
Na trama, Gotham
City vive dias de paz, depois de uma lei sancionada em homenagem a Harvey Dent.
Bruce Wayne se encontra recluso limitando-se à mancas caminhadas pela mansão, e
Batman está aposentado. Sua rotina é alterada quando a habilidosa e estonteante
ladra, Selina Kyle (Anne Hathaway), invade sua propriedade e é flagrada pelo
bilionário. O encontro com a criminosa desencadeia uma série de intrigas que desestabiliza a poderosa Corporação Wayne. Enquanto
isso, nos esgotos da cidade, Bane e sua quadrilha, arma um plano que pode
ameaçar a civilidade social e política de Gotham City, após o sequestro de um
famoso físico nuclear.
Com o estado de calamidade voltando a se apoderar da metrópole,
Batman ressurge da reclusão de oito anos, tal como entrega o título do filme. Equipado
com novos aparatos bélicos, Bruce Wayne precisa lidar com a lei, que o acusa de ser o
responsável pela morte de Harvey Dent. Falido e sem ajuda de Gordon e Alfred, o
herói desenvolve uma parceria com a traiçoeira Selina Kyle.
Além dos citados antagonistas, o filme apresenta dois novos
personagens importantes para o desfecho da trilogia. Miranda (Marion Cotillard), a filantropa e membro do conselho da Wayne Entreprises, que torna-se uma pessoa de confiança para o bilionário . E um jovem e integro policial chamado John Blake (Joseph Gordon Levitt),
que nas horas vagas, trabalha como voluntário em um orfanato que era financiado
pelas organizações da família Wayne.
Se “O Cavaleiro das Trevas” era o filme do vilão, o desfecho da
franquia cria situações que enaltecem a personalidade de personagens
secundários. É o caso do fiel mordomo Alfred (Michael Caine), com seus lampejos
paternos e sua comovente obsessão em preservar a segurança de Bruce Wayne. E de John Blake, pelo
ímpeto e caráter de um homem sofrido, buscando a própria redenção.
A personagem Selina Kyle, vulgo Mulher-Gato, interpretada pela excelente atriz Anne Hathaway, faz os fãs esquecerem da sensual vilã de roupa colante, interpretada por Michelle Pfeiffer em "Batman- O Retorno" de Tim Burton. Caracterizada pela sensualidade aliada à excelente desenvoltura contorcionista e marcial, Selina é uma agradável e carismática surpresa para o filme. O desempenho de Hathaway que, alterna o cinismo com a fragilidade em sua expressão, é louvável dentro da conjuntura narrativa da trama.
Bane lidera os criminosos de Gotham, em uma ofensiva contra os poderosos da cidade.
Em contrapartida, Nolan abusa do lado emocional de alguns personagens, entregando características que
não correspondem com o andamento frenético da trama. É o caso de Miranda que, durante
um importante diálogo, acomete o espectador com informações que
destoam com a fluidez narrativa.
Buscando respostas para uma série
de questões, “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” amarra com coesão, algumas
pontas soltas dos filmes anteriores, tal como os preceitos da Liga
das Sombras abordados em “Batman Begins”, e até o retorno de antigos vilões. Contudo, clichês gritantes como, beijo na
boca em momento de aflição, vilão detalhando o malévolo plano para o herói, e
reviravoltas pouco surpreendentes, permeiam o desfecho de “O Cavaleiro das
Trevas Ressurge”. Banalidades que Nolan evitava com precisão nos outros dois filmes da série.
O ponto alto do último capítulo apoteótico de Batman, é deflagrado pela dinâmica hiperativa no desfecho da película. A anárquica metrópole tomada pelo caos, é administrada pelos criminosos que tomaram Gotham, sob o comando de Bane. Cabe a Batman retomar a simbólica figura heroica para coibir a ação criminosa que vigora na cidade sitiada. A edição frenética instiga o espectador com ação redobrada, como jamais havia sido vista nos outros dois filmes da série. Em IMAX, as explosões configuradas durante as cenas de ação, são verdadeiros deslumbres visuais e sonoros, tornando "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" em um superlativo acontecimento cinematográfico.
Apesar das imperfeições que o
inferioriza diante de seus antecessores, o último filme da franquia coroa “Batman
de Nolan” como uma inesquecível série que, dificilmente, será superada dentro
das adaptações de quadrinhos para o cinema. E fica um espaço para que os fãs voltem a sonhar com um possível retorno da franquia, e de uma nova trama paralela à Gotham de Nolan.
Os novatos Joseph Gordon Levitt e Marion Cotillard
Nota: 7,5